A História do Japão
O arquipélago japonês adquiriu sua forma atual há aproximadamente 10 mil anos, começando então a era conhecida como Era Jomon, que durou uns 8 mil anos. As pessoas desta época eram caçadores que foram formando pequenas comunidades. Também começaram a utilizar objetos de barro.
A história do Japão é dividida em períodos ou eras.
O arroz chegou ao Japão através do continente eurasiático por volta do ano 300 a.C. durante a Era Yayoi.
O Japão começou a se tornar uma nação na Era Yamato, que começou no final do século III d.C.. Os antepassados do atual Imperador começou a governar um pequeno número de estados com as mesmas regras, hoje são as províncias de Nara e Osaka.
O príncipe Shotoku implantou a primeira Constituição do Japão no ano 604. Nesta época também houve a introdução do Budismo vindo do continente eurasiático.
A Era Nara iniciou no começo do século VIII, com o estabelecimento da primeira capital em Nara. A capital foi mudada para Kyoto, começando a Era Heian, quando a influência das famílias nobres foi predominante.
A classe militar, os samurais, governaram o Japão da Era Kamakura (final do século XII) até terminar a Era Edo, na segunda metade do século XIX.
Em meados do século XV, aconteceu uma guerra civil que durou cerca de 100 anos, lutas entre os senhores samurais de diferentes domínios. O promotor da unidade nacional e pacificador foi Toyotomi Hideyoshi.
A Era Edo iniciou no começo do século XVII, quando Tokugawa Ieyasu criou um governo em Edo, atual Tokyo, durando mais de 200 anos. Nesta época, o Japão só fazia intercâmbio com a China e os Países Baixos. O Japão começou a se abrir para os EUA e as potências européias com a chegada do comodoro estadunidense Matthew Perry em 1853.
A época dos samurais se finalizou com a Restauração Meiji de 1868, dando início a um novo sistema de governo baseado no Imperador, fomentando a modernização. Adaptou sistemas políticos, sociais e econômicos ocidentais e estimulou a atividade industrial.
O movimento democrático ganhou força em 1920. Os militares, aproveitando-se de uma crise econômica mundial, conseguiram o poder.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, entrou em vigor uma nova Constituição, onde o país se comprometia a regir um sistema democrático pacífico, melhorando sua economia . Em 1956 foi aprovada a entrada do Japão nas Nações Unidas. E como membro da comunidade internacional, o Japão tem contribuído, para paz e prosperidade mundial.
Eras
Período Jomon - 8000 a.C. a 300 a.C. A primeira civilização presente no arquipélago japonês foi chamada Jomon. O homem desta época vivia da caça e pesca em pequenas comunidades. O período recebeu este nome devido à cerâmica manual com estilo de decoração , com relevo de desenhos entrelaçados e marcadas com corda.
Período Yayoi - 300 a.C. a 300 d.C. Foi introduzida a cultura do arroz irrigado, e marcado pelo trabalho de metal ( bronze e ferro) e da cerâmica de torno.
Período Yamato ou Kofun - 300 a 593. O Estado é unificado pela primeira vez pela família Yamato, estabelecendo-se uma forte autoridade política. A Família Real é descendente dos governantes desta Era. Kofun são túmulos imensos construídos neste período para o enterro dos clãs. Introdução do Budismo, através da China e da Coréia.
Período Asuka - 593 a 710. O príncipe regente foi Shotoku, que também idealizou um documento clamando por reforma política e reforma constitucional, influenciado pelas lições do Budismo e Confucionismo. Em 604, foi implantada a primeira Constituição do Japão, pelo príncipe Shotoku. Foram construídos muitos templos budistas nesta Era.
Período Nara - 710 a 794. Nara tornou-se capital permanente. Foi construído o grande Buda, o Daibutsu, em Todaiji. Período que ocorreu a expansão do Budismo e da construção de templos por todo território, e que também influenciou nas artes, pintura, escultura e peças em metal fundido.
Período Heian - 794 a 1192. Houve a mudança da capital para Heian, hoje a província de Kyoto. Foi um período muito tranqüilo, onde Heiankyo significa "capital de paz e tranqüilidade". Época gloriosa e de luxo, destacando-se as atividades artísticas. Florescimento da poesia e da literatura no país. Aparecimento dos Samurais. Guerra Hogen(1156) Guerra Heiji (1159). Foi criada a grafia "kana", a partir dos ideogramas chineses "kanji".
Período Kamakura - 1192- 1333. Kamakura foi a nova capital ,escolhida por Minamoto Yoritomo, uma vila de pescadores, afastada e com facilidade para se proteger, pois queria governar longe de Kyoto. Criação do governo militar, em que o poder da corte estava nas mãos dos guerreiros e não dos aristocratas. Este período foi marcado pelos samurais, que possuíam rígido código de honra e lealdade para com seus senhores feudais. Tentativa de invasão de tropas mongóis. O shogunato de Kamakura foi derrotado pelo imperador Godaigo em 1333.
Período Muromachi - 1333 a 1573. Shogunato Muromachi estabelecido por Ashikaga Takauji em Kyoto. O período tinha estrutura feudal. Guerras civis e confusões, sempre que os senhores feudais demarcavam seus feudos. O senhor feudal tinha poder sobre os moradores de seu feudo, e também possuía seus próprios guerreiros e samurais para batalhas contra o inimigo. Construção do Templo Dourado (Kinkakuji) e do Templo de Prata (Ginkakuji). Teatro Nô, Ikebana, Cerimônia do Chá e os jardins japoneses eram muito apreciados pela elite. Introdução das armas de fogo, com a chegada dos portugueses, onde muitos senhores feudais construíram castelos para se protegerem. Francisco Xavier introduz movimentos missionários cristãos.
Período Azuchi-Momoyama - 1573 a 1603. O estrategista militar, Oda Nobunaga, destrói o shogunato de Muromachi e não consegue terminar as guerras civis e unificar o Japão, pois foi assassinado em 1582. Mas sua campanha foi seguida por um de seus melhores generais, Toyotomi Hideyoshi, que unifica o Japão. Desenvolvimento de Osaka, onde Toyotomi Hideyoshi tinha o poder centrado. Confisco de armas. Foi proibido o movimento missionário. Desenvolvimento do comércio e da Cerimônia do Chá.
Período Edo - 1603 a 1868. Tokugawa Ieyasu assume o poder após a morte de Toyotomi Hideyoshi. Houve mudança do centro político para Edo, hoje a província de Tokyo. Crescimento da influência européia no Japão. Houve o fechamento dos portos ao comércio estrangeiro, em 1639. Proibição da entrada de estrangeiros e também da saída de japoneses do país; isolamento do Japão para com o resto do mundo. O Estado controlava a liberdade individual. A sociedade dividia-se em quatro classes: nobres da corte, samurais, fazendeiros e os comerciantes. Desenvolvimento das artes (Kabuki e Ukiyo-e). Comodoro Mattew C. Perry e sua frota conseguiram em 1853, fazer com que o Japão reabrisse seus portos. 1867, fim da era feudal.
Período Moderno - 1868 até hoje
Meiji - 1868 a 1911. Em 1868, a sede foi transferida para Edo. Seu nome foi trocado para Tokyo, pelo Imperador Meiji. Rápido progresso nas próximas décadas, conhecida como Restauração Meiji. A sociedade feudal transformava-se em nação industrializada. Apoio do Imperador Meiji na modernização e ocidentalização do Japão, importando know how tecnológico, sistemas ferroviários e postais, e entrada de especialistas e consultores. As ilhas Ryukyu ( Okinawa) foram incorporadas ao arquipélago japonês. Inauguração do governo parlamentar em 1890. Japão vence a guerra contra a China em 1895 e vence a Rússia em 1905. Em 1910, o Japão anexa a Coréia.
Taisho - 1912 a 1925. Primeira Guerra Mundial começa em 1914 na Europa, e o Japão se junta à Grã-Bretanha e França contra Alemanha e Áustria. Em 1920, o governo democrático ganha força. Em 1923, ocorreu um grande terremoto que devastou Tokyo e Yokohama.
Showa - 1926 a 1988. O Japão atacou Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941, entrando na Segunda Guerra Mundial contra os Estados Unidos. Em 1945 as províncias de Hiroshima e Nagasaki foram bombardeadas, dando fim à guerra. Com o término da Guerra, em 1945, entra em vigor uma nova Constituição, regido por um sistema democrático pacífico. Em 1951, aconteceu o Tratado de Paz em São Francisco, e o Japão reingressa na comunidade das nações. Término da ocupação aliada no país e conquista da Independência em 1952. Japão torna-se membro das Nações Unidas em 1956. 1964 - realização do XVIII Jogos Olímpicos em Tokyo. Okinawa é devolvida ao Japão em 1972, pois estava sob o domínio americano desde o fim da guerra. Também em 1972 ocorreu o XI Jogos Olímpicos de Inverno em Sapporo. A relação Yen-Dólar chega a 120 yens. Em 1989, morre o Imperador Hirohito que reinou 63 anos.
Heisei - 1989 aos dias atuais. Sobe ao trono o príncipe herdeiro, Akihito, começando a nova Era, Era da Paz. Em 1993, acontece o casamento do príncipe com a plebéia Masako Owada. Relação Yen-Dólar chega a 100 yens. Em 1994, houve a queda de dois ministros, assumindo Tomiichi Murayama do Partido Social Democrata. Ocorre uma grande seca fazendo o país importar arroz dos EUA pela primeira vez. Terremoto de Kobe, em 1995. Relação Yen-Dolar chega a 90 yens.
Tia Mila

- Milena Lopes Borba
- Sao Joao Do Sul , SC, Brazil
- A Tia Mila iniciou em uma garagem de minha casa, mas devidos a circunstâncias pessoais foram interrompidas as atividades, durante dez anos. Mas a vontade de incentivar a leitura é tão grande, que estou retornado as atividades online, até que eu possa novamente levar aos espaços físicos.
9 de fev. de 2009
A EDUCAÇÃO DO FUTURO E O FUTURO DA EDUCAÇÃO
A EDUCAÇÃO DO FUTURO E O FUTURO DA EDUCAÇÃO
A educação faz parte de um futuro porque o futuro depende de uma boa educação. A educação consta do marketing neoliberal,pois o marketing não vale só paras as empresas,pois serve principalmente para a gente entender a realidade humana.
Para a educação é muito importante que o mercado neoliberal valorize a educação ,mas essa valorização tem como objetivo a competitividade e a produtividade e não a cidadania.
Educação tem relação forte com a construção da autonomia das pessoas e sociedades. Por meio de processos educacionais bem formulados e praticados, é possível contribuir para que a população se qualifique cada vez mais para a democracia, especialmente à medida que souber pensar em sentido crítico e propositivo. Em vista disso, é fundamental superar o reprodutivismo reinante na escola, particularmente a didática da mera aula, porque as teorias e práticas da aprendizagem não a abonam.
A educação tem a essência para levar as pessoas para um futuro brilhante,pois a educação pode ser levado a um meio e fim para um futuro,como também fazer parte de uma razão de uma classe onde irão poder ter um olhar de dominadores que sabem o que querem,mas com olhar futuro de que pode-se construir uma vida nova.
A educação será cada vez mais complexa, porque a sociedade vai tornando-se todos os campos mais complexos, exigentes e necessitados de aprendizagem contínua. A educação acontecerá cada vez mais ao longo da vida, de forma seguida, mais inclusiva, em todos os níveis e modalidades e em todas as atividades profissionais e sociais.
O ser humano tem o poder de se destacar em cada dinâmicas e também a facilidade de apreender as coisas das formas que o mundo se mostrar ser.O ser humano vai muito alem da razão do saber.Pois nos seres humanos sabemos agir com a razão alem de tudo podemos pensar e aprender muitas coisas que for oferecido.
“Esse tipo de educação não se pode levar ao futuro, e em fazer parte deles” Todas as habilidades criticam e criativas são de conhecimento aparece como instrumentação essencial para a construção da sociedade e da economia, fazendo com que possamos crescer sempre mais criando um senso comum.Fazendo com que o ensino tenha um sentido para que possa ser levado para um mundo de trabalho que seja subjetiva para manter sempre atento para a s novas mudanças.
Quando percebemos vimos que em nossa volta é cheio faces aonde que vamos tentando alcançar aos poucos, pois existem muitas competições entre um trabalho e nas relações em que vivemos.
Neste sentido, não e uma contradição afirmar que muitas das contribuições do chamado passado, vindas das tradições de sabedoria, das experiências históricas, do saber popular são parte deste futuro.
A educação não acontece só nas escolas e universidades. Todo ser humana é um educador, seja na condição de diretor de empresa, professor ou simplesmente como pai, tio e irmão mais velho. Educamos os outros enquanto educamos a nós próprios.
É claro que a educação é recíproca. Também aprendemos com nossos alunos, filhos e com todos que estão sob nossa influência. Crianças, estudantes e trabalhadores devem ensinar cada dia mais ativamente, questionando as situações e garantindo sua autonomia criadora.
O professor será a agente chave da escola reinventada. À medida que a aquisição de saber se torna mais e mais um processo de exposição a uma multiplicidade de oportunidades de aprendizagem, essa exposição múltipla torna-se um motivo de crescente sobrecarga cognitiva, se não de total perda de referências. Uma das principais funções da cultura é a de operar como filtro altamente selectivo na nossa estruturação de visões do mundo e na nossa protecção contra sobrecargas cognitivas. A solução para superar estas sobrecargas situa-se ao nível dos processos de contextualização oferecidos pela cultura.
A competitividade esta ligada à globalização na criatividade do conhecimento que transformara num processo inovador que iluminara a população para um novo trabalho para a inovação de uma nova contradição futura, onde as pessoas perderam intervir na relevância de um novo pensar.
A educação precisa cultivar uma qualidade total de uma nova política futura para que ela possa agir de uma nova competitividade para que o mercado estabeleça uma cidadania correta para uma nova sociedade que ira surgir através de conhecimento,pois se trata da evolução humana que ainda irão surgir da própria evolução.
Podemos afirmar que estamos num passo acelerado para um crescimento na evolução social e econômico na transformação de outras transformações que poderá surgir alem das tecnologias e das ciências humanas.
Também e parte deste agora/futuro a sabedoria que nos leva ao autoconhecimento: conhecimento do nosso corpo, das nossas necessidades, bem como dos níveis de experiência que nos conectam com os núcleos do nosso ser e com o universo.
Por conta da capacidade humana se tornou uma força inovadora na potencialidade no saber pensar e na maneira que o ser humano agi na hora de intervi e de criar, isso conta de que o ser humano tem a capacidade de criar novas possibilidade para o seu alto conhecimento isso se da na dimensões lógicas.
Nessa desagregação ruíram as bases da percepção de quem sou eu, de que mundo eu habito, de como eu afeto ou sou afetado pelos processos cósmicos, da biosfera, da sociedade e da minha propriamente. Novos conhecimentos passaram a ser vitais na busca de um novo entendimento, de uma nova descoberta da nossa condição de humano. Certamente este processo pede uma nova educação.
Devemos observar o ser vivo como um ser capaz de produzir todas reações reconstrutivista, já que um bom observador é aquele que impõe toda a sua realidade, que seja capaz de captar toda a verdade sobre a posição do sujeito dentro de seus próprios conhecimentos. Isso pode acontecer independente dentro de uma realidade externa. Que seja capaz de captar dentro de uma realidade onde se encontra a sua captação para garantir hoje uma grande oportunidade implica para um trabalho, onde poderá reconstruir da sua própria realidade externa.Pois para fazer de uma cultura basta ser original.
Devemos criar sempre um novo contexto para que possa chamar atenção e não ficar pensando se eu fizesse isso, mas sim tentar fazer um novo contexto onde possa usar uma noção do tempo e espaço.Usando uma criatividade que jamais se deve repetir e sim renovar as formas de serem repassada para que desperte o interesse em quem iras passar o conhecimento.
Tudo se indica que mo conceito da capacidade de auto formação se da ação que vem de dentro e no sob contato com a dinâmica que vem direta de nossa mente que se da como instrumento nos envolve-se para que nos faz surpreender também nos ajuda com as critica são instrucionismo que domina as instituições educativas que se expressa os paradigmas da educação e as suas tendências de expor a sua autenticidade de evolver a todos num processo de aprendizagem que esta sendo posto no primeiro lugar.
O homem só aprende a lidar com diversas coisas quando ele se da conta de que é nos seres humanos que fazemos a nossa própria historia, e isso faz com que valorizamos a nosso conhecimento e que alem de tudo podemos ir atrás da nossa própria atividades que nos leva aprender a lidar com a nossa própria cultura e também aprendemos a lidar com a sociedade.Pois quando a gente fala em apreender a lidar com a sociedade e culturas podem também descrever que a sociedade também esta em nossa família, pois ela também faz parte de nos. É através da nossa família que começamos conhecer a sociedade e o que ela quer impor pra nos.
A educação faz parte de um futuro porque o futuro depende de uma boa educação. A educação consta do marketing neoliberal,pois o marketing não vale só paras as empresas,pois serve principalmente para a gente entender a realidade humana.
Para a educação é muito importante que o mercado neoliberal valorize a educação ,mas essa valorização tem como objetivo a competitividade e a produtividade e não a cidadania.
Educação tem relação forte com a construção da autonomia das pessoas e sociedades. Por meio de processos educacionais bem formulados e praticados, é possível contribuir para que a população se qualifique cada vez mais para a democracia, especialmente à medida que souber pensar em sentido crítico e propositivo. Em vista disso, é fundamental superar o reprodutivismo reinante na escola, particularmente a didática da mera aula, porque as teorias e práticas da aprendizagem não a abonam.
A educação tem a essência para levar as pessoas para um futuro brilhante,pois a educação pode ser levado a um meio e fim para um futuro,como também fazer parte de uma razão de uma classe onde irão poder ter um olhar de dominadores que sabem o que querem,mas com olhar futuro de que pode-se construir uma vida nova.
A educação será cada vez mais complexa, porque a sociedade vai tornando-se todos os campos mais complexos, exigentes e necessitados de aprendizagem contínua. A educação acontecerá cada vez mais ao longo da vida, de forma seguida, mais inclusiva, em todos os níveis e modalidades e em todas as atividades profissionais e sociais.
O ser humano tem o poder de se destacar em cada dinâmicas e também a facilidade de apreender as coisas das formas que o mundo se mostrar ser.O ser humano vai muito alem da razão do saber.Pois nos seres humanos sabemos agir com a razão alem de tudo podemos pensar e aprender muitas coisas que for oferecido.
“Esse tipo de educação não se pode levar ao futuro, e em fazer parte deles” Todas as habilidades criticam e criativas são de conhecimento aparece como instrumentação essencial para a construção da sociedade e da economia, fazendo com que possamos crescer sempre mais criando um senso comum.Fazendo com que o ensino tenha um sentido para que possa ser levado para um mundo de trabalho que seja subjetiva para manter sempre atento para a s novas mudanças.
Quando percebemos vimos que em nossa volta é cheio faces aonde que vamos tentando alcançar aos poucos, pois existem muitas competições entre um trabalho e nas relações em que vivemos.
Neste sentido, não e uma contradição afirmar que muitas das contribuições do chamado passado, vindas das tradições de sabedoria, das experiências históricas, do saber popular são parte deste futuro.
A educação não acontece só nas escolas e universidades. Todo ser humana é um educador, seja na condição de diretor de empresa, professor ou simplesmente como pai, tio e irmão mais velho. Educamos os outros enquanto educamos a nós próprios.
É claro que a educação é recíproca. Também aprendemos com nossos alunos, filhos e com todos que estão sob nossa influência. Crianças, estudantes e trabalhadores devem ensinar cada dia mais ativamente, questionando as situações e garantindo sua autonomia criadora.
O professor será a agente chave da escola reinventada. À medida que a aquisição de saber se torna mais e mais um processo de exposição a uma multiplicidade de oportunidades de aprendizagem, essa exposição múltipla torna-se um motivo de crescente sobrecarga cognitiva, se não de total perda de referências. Uma das principais funções da cultura é a de operar como filtro altamente selectivo na nossa estruturação de visões do mundo e na nossa protecção contra sobrecargas cognitivas. A solução para superar estas sobrecargas situa-se ao nível dos processos de contextualização oferecidos pela cultura.
A competitividade esta ligada à globalização na criatividade do conhecimento que transformara num processo inovador que iluminara a população para um novo trabalho para a inovação de uma nova contradição futura, onde as pessoas perderam intervir na relevância de um novo pensar.
A educação precisa cultivar uma qualidade total de uma nova política futura para que ela possa agir de uma nova competitividade para que o mercado estabeleça uma cidadania correta para uma nova sociedade que ira surgir através de conhecimento,pois se trata da evolução humana que ainda irão surgir da própria evolução.
Podemos afirmar que estamos num passo acelerado para um crescimento na evolução social e econômico na transformação de outras transformações que poderá surgir alem das tecnologias e das ciências humanas.
Também e parte deste agora/futuro a sabedoria que nos leva ao autoconhecimento: conhecimento do nosso corpo, das nossas necessidades, bem como dos níveis de experiência que nos conectam com os núcleos do nosso ser e com o universo.
Por conta da capacidade humana se tornou uma força inovadora na potencialidade no saber pensar e na maneira que o ser humano agi na hora de intervi e de criar, isso conta de que o ser humano tem a capacidade de criar novas possibilidade para o seu alto conhecimento isso se da na dimensões lógicas.
Nessa desagregação ruíram as bases da percepção de quem sou eu, de que mundo eu habito, de como eu afeto ou sou afetado pelos processos cósmicos, da biosfera, da sociedade e da minha propriamente. Novos conhecimentos passaram a ser vitais na busca de um novo entendimento, de uma nova descoberta da nossa condição de humano. Certamente este processo pede uma nova educação.
Devemos observar o ser vivo como um ser capaz de produzir todas reações reconstrutivista, já que um bom observador é aquele que impõe toda a sua realidade, que seja capaz de captar toda a verdade sobre a posição do sujeito dentro de seus próprios conhecimentos. Isso pode acontecer independente dentro de uma realidade externa. Que seja capaz de captar dentro de uma realidade onde se encontra a sua captação para garantir hoje uma grande oportunidade implica para um trabalho, onde poderá reconstruir da sua própria realidade externa.Pois para fazer de uma cultura basta ser original.
Devemos criar sempre um novo contexto para que possa chamar atenção e não ficar pensando se eu fizesse isso, mas sim tentar fazer um novo contexto onde possa usar uma noção do tempo e espaço.Usando uma criatividade que jamais se deve repetir e sim renovar as formas de serem repassada para que desperte o interesse em quem iras passar o conhecimento.
Tudo se indica que mo conceito da capacidade de auto formação se da ação que vem de dentro e no sob contato com a dinâmica que vem direta de nossa mente que se da como instrumento nos envolve-se para que nos faz surpreender também nos ajuda com as critica são instrucionismo que domina as instituições educativas que se expressa os paradigmas da educação e as suas tendências de expor a sua autenticidade de evolver a todos num processo de aprendizagem que esta sendo posto no primeiro lugar.
O homem só aprende a lidar com diversas coisas quando ele se da conta de que é nos seres humanos que fazemos a nossa própria historia, e isso faz com que valorizamos a nosso conhecimento e que alem de tudo podemos ir atrás da nossa própria atividades que nos leva aprender a lidar com a nossa própria cultura e também aprendemos a lidar com a sociedade.Pois quando a gente fala em apreender a lidar com a sociedade e culturas podem também descrever que a sociedade também esta em nossa família, pois ela também faz parte de nos. É através da nossa família que começamos conhecer a sociedade e o que ela quer impor pra nos.
“A AULA DAS DESCOBERTAS”
“A AULA DAS DESCOBERTAS”
segundo FREINET
Uma aula de Rosa Maria Whitaker Sampaio
Objetivo: TRABALHANDO PARA O DESCONFINAMENTO COMUNITÁRIO
As maravilhas, as tristezas, as possibilidades, os espaços que ainda não descobrimos no mundo à nossa volta... Tudo que está aí pode ser melhorado, conectado, incorporado e precisamos fazer com que isso aconteça... Nossa ajuda é indispensável... É urgente... O querer ir... A alegria de partir juntos... Ver novos horizontes... Fazer novos amigos... Criar redes de relacionamentos, cooperação, aprendizagem, saberes, ...
Não podemos deixar que as paredes das salas de aula e os muros das escolas bloqueiem as descobertas e impossibilitem as conexões com a comunidade, pois o saber está em todos os lugares.
Os cinco PASSOS para organizar uma Aula das Descobertas
1. MOTIVAÇÃO
A motivação vem de onde? De quem? Do Norte, do Sul, do leste, do oeste... De dentro da Internet... Dos jornais... Da televisão... Um questionamento... Das conversas com os amigos, com a família... qualquer acontecimento poderá se tornar um estímulo e pode desencadear todo o processo, criando condições para que o meio físico e o meio humano constituam-se numa fonte de aprendizado, atividades e descobertas felizes.
A curiosidade, o desejo de conhecer coisas novas, refletir sobre elas e compreende-las, possibilita o desencadeamento de um processo em que todos estarão envolvidos para preparar o plano para a descoberta de um mundo novo.
2. PREPARAÇÃO
2.1. Preparação inicial
Descobrir um mundo novo significa ampliar o mapa do conhecimento já construído.
Rubem Alves, quando escreve sobre mapas no livro Aprendiz de Mim, descreve a construção de mapas como “impulso de aprendizagem” na criação de novas trilhas, que “servem para nos levar de um lugar onde estamos para um lugar onde desejamos ir.”
A preparação de uma aula de descobertas segue o mesmo processo que um desbravador desenvolvia nos tempos antigos, a partir do mapa conhecido e pela motivação do desconhecido, desenvolvia-se uma trilha que ia além do mapa conhecido.
Hoje podemos encontrar na Internet o mapa de qualquer lugar da terra, fotografado por satélites que traz detalhes nas aproximações, que facilitariam muito a vida dos antigos navegantes, mas, apesar deles, nosso mapa não está completo, precisamos trilhar os caminhos, completando o nosso mapa de conhecimento e realizando as conexões.
Nesta etapa, buscamos o maior número de informações já descobertas por outros exploradores para o desenvolvimento da trilha.
O que já existe registrado sobre este espaço que pretendo explorar?
O que será necessário para executar a trilha?
Qual a questão que queremos responder?
Qual a hipótese que queremos verificar?
O que não sabemos sobre o local que iremos?
O que estaremos percebendo durante a trilha?
2.2. Preparação da trilha
Na preparação da trilha a ser feita, que deve ser construída conjuntamente com professores e alunos, serão contemplados vários planos, camadas que serão trabalhadas:
• Da Saúde – O ritmo de vida no passeio vai ser diferente; adaptação a um meio novo; vai chover? Vai fazer frio? Como vai ser o lanche? Quantas horas de saída?
• Da autonomia – Conhecimento das regras e normas de segurança do local. Num ambiente novo poderão se revelar aptidões desconhecidas - Tomar conta de suas coisas-resolver conflitos inesperados... Superar dificuldades... Descobrindo competências e habilidades suas, dos outros companheiros e... Dos professores e acompanhantes.
• Das Finanças – Discussões sobre as despesas que irão enfrentar, levantamento de preços do transporte, do lanche, dos materiais necessários, dos mapas, filmes; estudar fontes de subvenção, (realizar bingos ou quermesses)... Não desistir por falta de dinheiro... Sempre haverá uma forma de solucionar o problema.
Definir os responsáveis para cada levantamento.
• Do material - confecção de crachás; conhecer os pontos de referência com mapas, verificar a necessidade de filmes, fitas cassetes para gravar, saquinhos de supermercado para trazer coisas que acharem interessantes, potes, e caixinhas; previsão de dificuldades – o momento é solene... Tudo deve ser pensado, previsto, estudado, decidido e só então definir os responsáveis pela aquisição do que será preciso (em pares).
• Do pedagógico. Um projeto de saída tem que ter um objetivo definido, com abertura para que os caminhos para chegar a ele possam tomar direções diferentes por cada grupo, de acordo com os interesses e as curiosidades que forem aparecendo. Essa abertura e a disponibilidade para a exploração das descobertas enriquecerão cada vez mais os grupos de trabalho e por isso não devem ser descartadas e sim estimuladas, para o posterior trabalho coletivo.
Na preparação inicial é decidido o objetivo maior da atividade e isto deverá ser feita por toda a classe, possibilitando o envolvimento de todos na construção do conhecimento.
2.3. Trilhas específicas
A partir deste momento, trilhas específicas podem ser definidas, são objetivos secundários, com diversas variáveis; geográficas (norte, sul, leste, oeste), camadas (pessoais, sociais, culturais, políticas...), questões específicas, etc...
Definidos os objetivos secundários, são colocados em painéis, um para cada grupo. Chega o momento da escolha, cada um se inscreverá no assunto que lhe interessar, obedecendo ao número de pessoas estipulado previamente para cada grupo.
Formado os grupos, é o momento de cada um deles preparar seu roteiro de observações, indagações e se organizar para a saída.
2.4. Organização dos grupos:
Cada grupo, preferivelmente com até oito elementos, terá os responsáveis por alguma ação.
a) O FERNÃO DE MAGALHÃES e a ESTRELA GUIA:
Levarão os mapas indispensáveis e as bússolas. (para seguirem a direção determinada para cada grupo: norte, sul... etc.), e deverão ser capazes de dirigir o grupo, dobrar o Cabo da Boa Esperança enfrentando raios e tempestades, tudo por uma boa causa... Vamos aprender... Para podermos ensinar... E ajudar...
b) O CAMELO e o JERICO:
Os carregadores, que trarão o maior número de informações possível, objetos, insetos, pedrinhas, materiais de divulgação, tudo o que considerarem importante dentro do seu plano de trabalho, sem ferir a natureza... (Levar sacos de supermercado, pinças, caixinhas, potes, luvas de cozinha...)
c) O SENHOR DO TEMPO E O COELHO MALUCO:
As paradas e minutos determinados previamente, o aviso no momento de começar a voltar, o respeito ao tempo que corre... Para dar tempo... Tem sempre regras combinadas para serem obedecidas...
d) Os ESCRIBAS:
Notas e notícias, desde o tempo de Cabral, são essenciais........ Levar as perguntas elaboradas pelos grupos no momento da preparação, buscar suas respostas e também de outras perguntas também poderão surgir... A curiosidade aumenta com algumas respostas... As entrevistas podem também ser gravadas... Fotografadas... Filmadas...
e) As INCRÍVEIS MÁQUINAS REGISTRADORAS:
Os criativos: fotógrafos e desenhistas, artistas e não artistas, digitais ou não...
Fazendo e aprendendo... Sempre é bom tentar... Não custa levar papéis e canetinhas...
3. A AÇÃO:
Como dizia Freinet: “Vamos descobrir o fascinante mistério da vida á nossa volta”
Ir, enfrentar com coragem, olhar com os olhos bem abertos em todas as direções, ouvir com os ouvidos bem atentos, sentir os perfumes e os odores, experimentar o gosto , pegar, tatear, sentir o calor e o frio...descobrir novas sensações com os pés...e dividir as descobertas com os outros.
Podem prever algumas paradas com momentos de silêncio... Dar um tempo ao tempo... Perceber a vida... Olhar, em volta... Fechar os olhos e escutar um poema ou uma música...
Nutrir o seu imaginário...
Aguçar sua atenção, aprender a partir do mundo tal qual ele é na realidade, desenvolver seu espírito crítico-- o encontro, as novas situações, novas relações humanas;
Tomar conhecimento daquilo que já desapareceu, daquilo que pode ser melhorado e das coisas que precisam ser preservadas.
Finalmente ser sempre curioso: perguntar, perguntar e perguntar... Anotar as respostas e as perguntas sem respostas... Até que fiquem claras, os nãos, porque NÃO.
Serão descobertas pistas ricas e múltiplas. Um novo mundo que não sabiam que estava ali... Registrar... Trazer os materiais interessantes...
Cada um se responsabilizando seriamente pelo seu papel estipulado na preparação.
As saídas permitem a sensibilização a numerosos pontos de aprendizagem.
TUDO PRONTO? AVANÇAR!
CADA GRUPO COM SUA RESPONSABILIDADE E O CORAÇÃO ABERTO, SERÃO OS DESBRAVADORES DAS FLORESTAS MISTERIOSAS DO MUNDO TÃO PRÓXIMO, QUE ESTIVERAM SEMPRE A NOSSA VOLTA, ALI JUNTINHO DE NÓS, MAS QUE, ATÉ HOJE, AINDA NÃO CONSEGUIMOS, OU NÃO TIVEMOS OPORTUNIDADE PARA SENTIR, NEM ENXERGAR....
Agora, depois da AÇÃO, a CHEGADA, a VOLTA e começa o momento do PROLONGAMENTO.
4. O PROLONGAMENTO:
O momento mágico da volta
É lindo: todos falam ao mesmo tempo... Muita coisa foi descoberta.
1ª. Fase
Este é o momento para classificação dos materiais coletados, comparar com as pesquisas nos livros, na internet, confrontação das hipóteses, consultas aos entendidos no assunto, complementar, registrando e organizando tudo aquilo que foi aprendido.
É preciso organizar e classificar os materiais recolhidos e pesquisados, colocando em caixas, em fichas, em estantes... para poder continuar a atividade nos próximos encontros, tantos quantos forem necessários para fazer um trabalho bem feito...
É necessária a verificação das hipóteses, responder as questões levantadas antes da partida da expedição, classificar as descobertas, discutir com os grupos para que todos conheçam TODAS as descobertas.
2ª. Fase
Preparação para a COMUNICAÇÃO: Decidir como será? Um jornal, uma exposição, um museu, uma conferência, uma apresentação numa rádio, um debate, uma festa?
Com tudo decidido começam a, planejar, planejar, planejar e agir, prever possibilidades reais, vantagens e desvantagens, decidir... e a distribuição de tarefas.
Divisão de responsabilidades: quem vai fazer O que? Como? Onde? Quando?
3ª. Fase - A IMPORTÂNCIA DO PROLONGAMENTO
O prolongamento será a preparação da comunicação. Uma festa, com uma exposição, uma emissão na radio Comunitária, completada com painéis com recortes de revistas, ou notícias de jornais; ou um museu, umas pinturas e desenhos, belos poemas, um livro, um rico jornal que será enviado aos correspondentes, um site..., seja o que for tem que ser bem feito! Cada grupo se expressará da sua maneira, o melhor que puder fazer, todos juntos num trabalho coletivo, com o objetivo de COMUNICAR o que os grupos descobriram e aprenderam para ficar REGISTRADO de alguma forma, para ser usado por outros interessados e ou ser a provocação, motivação para desenvolverem outros projetos:
É A APRESENTAÇÃO DOS OBJETIVOS ALCANÇADOS!
5. A COMUNICAÇÃO
Uma festa? Uma exposição? Para quais convidados?
Ultrapassando os limites do seu grupo-classe, dos muros da sua escola, daquilo que sempre foi o seu mundo, tudo o que foi descoberto vai ser participado aos convidados ou enviado por vários meios de comunicação (ou, por que não os dois?). Será de certa forma o momento da avaliação. Não guardar suas descobertas dentro das gavetas, tudo o que se descobre poderá em algum momento, ajudar alguém...
Uma nova trilha foi criada e registrada, uma nova opção de relacionamento foi descoberta, mais um ponto na comunidade foi conectado, o mapa do conhecimento foi ampliado e a possibilidade de interferir e participar daquilo que foi descoberto.
Cidadania também é isso.
FINALIZANDO: A INDISPENSÁVEL COMUNICAÇÃO
Com os convites definidos enviados pelos grupos, agora, está tudo preparado para a Comunicação, o objetivo maior... O que faz com que tenha valido a pena essa “AULA DAS DESCOBERTAS”, que deve ter sido feita em pelo menos cinco encontros de duas horas.
Esse momento final deve ser uma atividade que possa ensinar aos outros aquilo que foi aprendido. Tudo pode ser dividido com aqueles que ainda não tiveram ocasião de sentir a importância dessas suas descobertas... Mas também pode ser o impulso para um novo grande planejamento futuro.
A divulgação da comunicação será para sua escola, seu bairro, sua cidade, o seu mundo que se abre em leque e assim poderá como o vento, alcançar novos horizontes... Isso despertará a curiosidade para descobrir o que existe por trás das coisas, dos muros e das palavras... o que era invisível.
MAS... É preciso exigir respostas... Ouvir os outros, discutir, pesquisar, argumentar e compreender, aceitar ou não... E agir...
Fazendo como pedia Freinet:
“Vamos descobrir o fascinante mistério da vida á nossa volta”
OUTRAS POSSIBILIDADES
Esta forma de fazer acontecer uma chamada Aula das Descobertas, é uma sugestão minha. Vocês poderão trabalhar em cima e descobrir novos caminhos. Respeitando, promovendo e desenvolvendo:
• O senso de responsabilidade,
• A sociabilidade,
• O julgamento pessoal,
• A reflexão individual e coletiva,
• A criatividade,
• A expressão livre (em todos os seus aspectos),
• A comunicação (de várias formas),
• E principalmente a percepção dos pontos de desigualdades físico-sócio-culturais que poderão de alguma forma ser reduzidas que se tornarão objetivos para um novo projeto prático de cidadania..
O ideal é usar um bimestre para começar e acabar todos esses passos bem feitos.
É uma técnica da Pedagogia Freinet que pode ser trabalhada com os grupos de idades as mais variadas:
• Com as crianças, que podem ter objetivos relacionados com as artes, com ecologia, com animais, com a sua própria escola, com uma visita à praça, com a volta ao quarteirão, a ida a um sítio ou a uma praia... As visitas ás crianças de uma creche ou a um asilo de velhinhos, exposições, teatro, cinema...
• Com os jovens os objetivos serão principalmente relacionados com a prática da cidadania com o “Desconfinamento Cultural” ou “Desconfinamento comunitário”, com possibilidades de ajuda a outros grupos (para que exista a cidadania plena) com o conhecimento de seu próprio bairro, com uma introdução à política, visitas à Câmara dos vereadores, para conhecer seus trabalhos sobre a cidade; saber a quem se dirigir para reclamar ou dar sugestões ou parabenizar; descobrir como conseguir fazer as práticas Freinet a “Troca de Saberes” ou a “Correspondência” com outros grupos e descobrir muitas outras atividades relacionadas com suas próprias vidas e o mundo que os cerca, seus lazeres, seus problemas, seus sucessos e seus sonhos.
• Com os idosos os objetivos devem ser os mais agradáveis bonitos e alegres que puderem imaginar; música, artes, literatura, costumes e estimulando-os para que registrem suas lembranças; que uns ensinem os outros numa ”Troca de Saberes”, suas receitas de bolo, de crochê, de bordados, de danças e mostrem suas pinturas, seus versos e mais todos os conhecimentos que a sabedoria da vida os ensinou... Levantando sua auto-estima e a alegria de viver.
É urgente descobrir maneiras de registrar, divulgar e conservar e divulgar o que os idosos trazem até nós.
Célestin Freinet, pedagogo Francês, desde 1920 tinha a preocupação de preparar as crianças e os jovens para um mundo de solidariedade, ajuda mútua, a democracia e principalmente para a PAZ.
Ele apresenta atividades, instrumentos e as práticas pedagógicas, chamadas Práticas Freinet, como um suporte que faz acontecer o aprendizado em nível cooperativo, social, intelectual, manual e afetivo, acompanhando sempre o desenvolvimento tecnológico.
“Os educadores têm o papel mais importante, aquele de: adultos mediadores entre a criança e o mundo”.
segundo FREINET
Uma aula de Rosa Maria Whitaker Sampaio
Objetivo: TRABALHANDO PARA O DESCONFINAMENTO COMUNITÁRIO
As maravilhas, as tristezas, as possibilidades, os espaços que ainda não descobrimos no mundo à nossa volta... Tudo que está aí pode ser melhorado, conectado, incorporado e precisamos fazer com que isso aconteça... Nossa ajuda é indispensável... É urgente... O querer ir... A alegria de partir juntos... Ver novos horizontes... Fazer novos amigos... Criar redes de relacionamentos, cooperação, aprendizagem, saberes, ...
Não podemos deixar que as paredes das salas de aula e os muros das escolas bloqueiem as descobertas e impossibilitem as conexões com a comunidade, pois o saber está em todos os lugares.
Os cinco PASSOS para organizar uma Aula das Descobertas
1. MOTIVAÇÃO
A motivação vem de onde? De quem? Do Norte, do Sul, do leste, do oeste... De dentro da Internet... Dos jornais... Da televisão... Um questionamento... Das conversas com os amigos, com a família... qualquer acontecimento poderá se tornar um estímulo e pode desencadear todo o processo, criando condições para que o meio físico e o meio humano constituam-se numa fonte de aprendizado, atividades e descobertas felizes.
A curiosidade, o desejo de conhecer coisas novas, refletir sobre elas e compreende-las, possibilita o desencadeamento de um processo em que todos estarão envolvidos para preparar o plano para a descoberta de um mundo novo.
2. PREPARAÇÃO
2.1. Preparação inicial
Descobrir um mundo novo significa ampliar o mapa do conhecimento já construído.
Rubem Alves, quando escreve sobre mapas no livro Aprendiz de Mim, descreve a construção de mapas como “impulso de aprendizagem” na criação de novas trilhas, que “servem para nos levar de um lugar onde estamos para um lugar onde desejamos ir.”
A preparação de uma aula de descobertas segue o mesmo processo que um desbravador desenvolvia nos tempos antigos, a partir do mapa conhecido e pela motivação do desconhecido, desenvolvia-se uma trilha que ia além do mapa conhecido.
Hoje podemos encontrar na Internet o mapa de qualquer lugar da terra, fotografado por satélites que traz detalhes nas aproximações, que facilitariam muito a vida dos antigos navegantes, mas, apesar deles, nosso mapa não está completo, precisamos trilhar os caminhos, completando o nosso mapa de conhecimento e realizando as conexões.
Nesta etapa, buscamos o maior número de informações já descobertas por outros exploradores para o desenvolvimento da trilha.
O que já existe registrado sobre este espaço que pretendo explorar?
O que será necessário para executar a trilha?
Qual a questão que queremos responder?
Qual a hipótese que queremos verificar?
O que não sabemos sobre o local que iremos?
O que estaremos percebendo durante a trilha?
2.2. Preparação da trilha
Na preparação da trilha a ser feita, que deve ser construída conjuntamente com professores e alunos, serão contemplados vários planos, camadas que serão trabalhadas:
• Da Saúde – O ritmo de vida no passeio vai ser diferente; adaptação a um meio novo; vai chover? Vai fazer frio? Como vai ser o lanche? Quantas horas de saída?
• Da autonomia – Conhecimento das regras e normas de segurança do local. Num ambiente novo poderão se revelar aptidões desconhecidas - Tomar conta de suas coisas-resolver conflitos inesperados... Superar dificuldades... Descobrindo competências e habilidades suas, dos outros companheiros e... Dos professores e acompanhantes.
• Das Finanças – Discussões sobre as despesas que irão enfrentar, levantamento de preços do transporte, do lanche, dos materiais necessários, dos mapas, filmes; estudar fontes de subvenção, (realizar bingos ou quermesses)... Não desistir por falta de dinheiro... Sempre haverá uma forma de solucionar o problema.
Definir os responsáveis para cada levantamento.
• Do material - confecção de crachás; conhecer os pontos de referência com mapas, verificar a necessidade de filmes, fitas cassetes para gravar, saquinhos de supermercado para trazer coisas que acharem interessantes, potes, e caixinhas; previsão de dificuldades – o momento é solene... Tudo deve ser pensado, previsto, estudado, decidido e só então definir os responsáveis pela aquisição do que será preciso (em pares).
• Do pedagógico. Um projeto de saída tem que ter um objetivo definido, com abertura para que os caminhos para chegar a ele possam tomar direções diferentes por cada grupo, de acordo com os interesses e as curiosidades que forem aparecendo. Essa abertura e a disponibilidade para a exploração das descobertas enriquecerão cada vez mais os grupos de trabalho e por isso não devem ser descartadas e sim estimuladas, para o posterior trabalho coletivo.
Na preparação inicial é decidido o objetivo maior da atividade e isto deverá ser feita por toda a classe, possibilitando o envolvimento de todos na construção do conhecimento.
2.3. Trilhas específicas
A partir deste momento, trilhas específicas podem ser definidas, são objetivos secundários, com diversas variáveis; geográficas (norte, sul, leste, oeste), camadas (pessoais, sociais, culturais, políticas...), questões específicas, etc...
Definidos os objetivos secundários, são colocados em painéis, um para cada grupo. Chega o momento da escolha, cada um se inscreverá no assunto que lhe interessar, obedecendo ao número de pessoas estipulado previamente para cada grupo.
Formado os grupos, é o momento de cada um deles preparar seu roteiro de observações, indagações e se organizar para a saída.
2.4. Organização dos grupos:
Cada grupo, preferivelmente com até oito elementos, terá os responsáveis por alguma ação.
a) O FERNÃO DE MAGALHÃES e a ESTRELA GUIA:
Levarão os mapas indispensáveis e as bússolas. (para seguirem a direção determinada para cada grupo: norte, sul... etc.), e deverão ser capazes de dirigir o grupo, dobrar o Cabo da Boa Esperança enfrentando raios e tempestades, tudo por uma boa causa... Vamos aprender... Para podermos ensinar... E ajudar...
b) O CAMELO e o JERICO:
Os carregadores, que trarão o maior número de informações possível, objetos, insetos, pedrinhas, materiais de divulgação, tudo o que considerarem importante dentro do seu plano de trabalho, sem ferir a natureza... (Levar sacos de supermercado, pinças, caixinhas, potes, luvas de cozinha...)
c) O SENHOR DO TEMPO E O COELHO MALUCO:
As paradas e minutos determinados previamente, o aviso no momento de começar a voltar, o respeito ao tempo que corre... Para dar tempo... Tem sempre regras combinadas para serem obedecidas...
d) Os ESCRIBAS:
Notas e notícias, desde o tempo de Cabral, são essenciais........ Levar as perguntas elaboradas pelos grupos no momento da preparação, buscar suas respostas e também de outras perguntas também poderão surgir... A curiosidade aumenta com algumas respostas... As entrevistas podem também ser gravadas... Fotografadas... Filmadas...
e) As INCRÍVEIS MÁQUINAS REGISTRADORAS:
Os criativos: fotógrafos e desenhistas, artistas e não artistas, digitais ou não...
Fazendo e aprendendo... Sempre é bom tentar... Não custa levar papéis e canetinhas...
3. A AÇÃO:
Como dizia Freinet: “Vamos descobrir o fascinante mistério da vida á nossa volta”
Ir, enfrentar com coragem, olhar com os olhos bem abertos em todas as direções, ouvir com os ouvidos bem atentos, sentir os perfumes e os odores, experimentar o gosto , pegar, tatear, sentir o calor e o frio...descobrir novas sensações com os pés...e dividir as descobertas com os outros.
Podem prever algumas paradas com momentos de silêncio... Dar um tempo ao tempo... Perceber a vida... Olhar, em volta... Fechar os olhos e escutar um poema ou uma música...
Nutrir o seu imaginário...
Aguçar sua atenção, aprender a partir do mundo tal qual ele é na realidade, desenvolver seu espírito crítico-- o encontro, as novas situações, novas relações humanas;
Tomar conhecimento daquilo que já desapareceu, daquilo que pode ser melhorado e das coisas que precisam ser preservadas.
Finalmente ser sempre curioso: perguntar, perguntar e perguntar... Anotar as respostas e as perguntas sem respostas... Até que fiquem claras, os nãos, porque NÃO.
Serão descobertas pistas ricas e múltiplas. Um novo mundo que não sabiam que estava ali... Registrar... Trazer os materiais interessantes...
Cada um se responsabilizando seriamente pelo seu papel estipulado na preparação.
As saídas permitem a sensibilização a numerosos pontos de aprendizagem.
TUDO PRONTO? AVANÇAR!
CADA GRUPO COM SUA RESPONSABILIDADE E O CORAÇÃO ABERTO, SERÃO OS DESBRAVADORES DAS FLORESTAS MISTERIOSAS DO MUNDO TÃO PRÓXIMO, QUE ESTIVERAM SEMPRE A NOSSA VOLTA, ALI JUNTINHO DE NÓS, MAS QUE, ATÉ HOJE, AINDA NÃO CONSEGUIMOS, OU NÃO TIVEMOS OPORTUNIDADE PARA SENTIR, NEM ENXERGAR....
Agora, depois da AÇÃO, a CHEGADA, a VOLTA e começa o momento do PROLONGAMENTO.
4. O PROLONGAMENTO:
O momento mágico da volta
É lindo: todos falam ao mesmo tempo... Muita coisa foi descoberta.
1ª. Fase
Este é o momento para classificação dos materiais coletados, comparar com as pesquisas nos livros, na internet, confrontação das hipóteses, consultas aos entendidos no assunto, complementar, registrando e organizando tudo aquilo que foi aprendido.
É preciso organizar e classificar os materiais recolhidos e pesquisados, colocando em caixas, em fichas, em estantes... para poder continuar a atividade nos próximos encontros, tantos quantos forem necessários para fazer um trabalho bem feito...
É necessária a verificação das hipóteses, responder as questões levantadas antes da partida da expedição, classificar as descobertas, discutir com os grupos para que todos conheçam TODAS as descobertas.
2ª. Fase
Preparação para a COMUNICAÇÃO: Decidir como será? Um jornal, uma exposição, um museu, uma conferência, uma apresentação numa rádio, um debate, uma festa?
Com tudo decidido começam a, planejar, planejar, planejar e agir, prever possibilidades reais, vantagens e desvantagens, decidir... e a distribuição de tarefas.
Divisão de responsabilidades: quem vai fazer O que? Como? Onde? Quando?
3ª. Fase - A IMPORTÂNCIA DO PROLONGAMENTO
O prolongamento será a preparação da comunicação. Uma festa, com uma exposição, uma emissão na radio Comunitária, completada com painéis com recortes de revistas, ou notícias de jornais; ou um museu, umas pinturas e desenhos, belos poemas, um livro, um rico jornal que será enviado aos correspondentes, um site..., seja o que for tem que ser bem feito! Cada grupo se expressará da sua maneira, o melhor que puder fazer, todos juntos num trabalho coletivo, com o objetivo de COMUNICAR o que os grupos descobriram e aprenderam para ficar REGISTRADO de alguma forma, para ser usado por outros interessados e ou ser a provocação, motivação para desenvolverem outros projetos:
É A APRESENTAÇÃO DOS OBJETIVOS ALCANÇADOS!
5. A COMUNICAÇÃO
Uma festa? Uma exposição? Para quais convidados?
Ultrapassando os limites do seu grupo-classe, dos muros da sua escola, daquilo que sempre foi o seu mundo, tudo o que foi descoberto vai ser participado aos convidados ou enviado por vários meios de comunicação (ou, por que não os dois?). Será de certa forma o momento da avaliação. Não guardar suas descobertas dentro das gavetas, tudo o que se descobre poderá em algum momento, ajudar alguém...
Uma nova trilha foi criada e registrada, uma nova opção de relacionamento foi descoberta, mais um ponto na comunidade foi conectado, o mapa do conhecimento foi ampliado e a possibilidade de interferir e participar daquilo que foi descoberto.
Cidadania também é isso.
FINALIZANDO: A INDISPENSÁVEL COMUNICAÇÃO
Com os convites definidos enviados pelos grupos, agora, está tudo preparado para a Comunicação, o objetivo maior... O que faz com que tenha valido a pena essa “AULA DAS DESCOBERTAS”, que deve ter sido feita em pelo menos cinco encontros de duas horas.
Esse momento final deve ser uma atividade que possa ensinar aos outros aquilo que foi aprendido. Tudo pode ser dividido com aqueles que ainda não tiveram ocasião de sentir a importância dessas suas descobertas... Mas também pode ser o impulso para um novo grande planejamento futuro.
A divulgação da comunicação será para sua escola, seu bairro, sua cidade, o seu mundo que se abre em leque e assim poderá como o vento, alcançar novos horizontes... Isso despertará a curiosidade para descobrir o que existe por trás das coisas, dos muros e das palavras... o que era invisível.
MAS... É preciso exigir respostas... Ouvir os outros, discutir, pesquisar, argumentar e compreender, aceitar ou não... E agir...
Fazendo como pedia Freinet:
“Vamos descobrir o fascinante mistério da vida á nossa volta”
OUTRAS POSSIBILIDADES
Esta forma de fazer acontecer uma chamada Aula das Descobertas, é uma sugestão minha. Vocês poderão trabalhar em cima e descobrir novos caminhos. Respeitando, promovendo e desenvolvendo:
• O senso de responsabilidade,
• A sociabilidade,
• O julgamento pessoal,
• A reflexão individual e coletiva,
• A criatividade,
• A expressão livre (em todos os seus aspectos),
• A comunicação (de várias formas),
• E principalmente a percepção dos pontos de desigualdades físico-sócio-culturais que poderão de alguma forma ser reduzidas que se tornarão objetivos para um novo projeto prático de cidadania..
O ideal é usar um bimestre para começar e acabar todos esses passos bem feitos.
É uma técnica da Pedagogia Freinet que pode ser trabalhada com os grupos de idades as mais variadas:
• Com as crianças, que podem ter objetivos relacionados com as artes, com ecologia, com animais, com a sua própria escola, com uma visita à praça, com a volta ao quarteirão, a ida a um sítio ou a uma praia... As visitas ás crianças de uma creche ou a um asilo de velhinhos, exposições, teatro, cinema...
• Com os jovens os objetivos serão principalmente relacionados com a prática da cidadania com o “Desconfinamento Cultural” ou “Desconfinamento comunitário”, com possibilidades de ajuda a outros grupos (para que exista a cidadania plena) com o conhecimento de seu próprio bairro, com uma introdução à política, visitas à Câmara dos vereadores, para conhecer seus trabalhos sobre a cidade; saber a quem se dirigir para reclamar ou dar sugestões ou parabenizar; descobrir como conseguir fazer as práticas Freinet a “Troca de Saberes” ou a “Correspondência” com outros grupos e descobrir muitas outras atividades relacionadas com suas próprias vidas e o mundo que os cerca, seus lazeres, seus problemas, seus sucessos e seus sonhos.
• Com os idosos os objetivos devem ser os mais agradáveis bonitos e alegres que puderem imaginar; música, artes, literatura, costumes e estimulando-os para que registrem suas lembranças; que uns ensinem os outros numa ”Troca de Saberes”, suas receitas de bolo, de crochê, de bordados, de danças e mostrem suas pinturas, seus versos e mais todos os conhecimentos que a sabedoria da vida os ensinou... Levantando sua auto-estima e a alegria de viver.
É urgente descobrir maneiras de registrar, divulgar e conservar e divulgar o que os idosos trazem até nós.
Célestin Freinet, pedagogo Francês, desde 1920 tinha a preocupação de preparar as crianças e os jovens para um mundo de solidariedade, ajuda mútua, a democracia e principalmente para a PAZ.
Ele apresenta atividades, instrumentos e as práticas pedagógicas, chamadas Práticas Freinet, como um suporte que faz acontecer o aprendizado em nível cooperativo, social, intelectual, manual e afetivo, acompanhando sempre o desenvolvimento tecnológico.
“Os educadores têm o papel mais importante, aquele de: adultos mediadores entre a criança e o mundo”.
Todas as crianças são bem-vindas à escola
Todas as crianças são bem-vindas à escola
Maria Teresa Eglér Mantoan
Universidade Estadual de Campinas / Unicamp
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Reabilitação de Pessoas com Deficiência - LEPED/ FE/ Unicamp
A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido e um movimento muito polemizado pelos mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de todos à educação - e assim diz a Constituição !
Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado. As grandes inovações estão, muitas vezes na concretização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas que precisa ser desvelado, para que possa ser compreendido por todos e aceito sem outras resistências, senão aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades.
O objetivo de nossa participação neste evento é clarear o sentido da inclusão, como inovação, tornando-o compreensível, aos que se interessam pela educação como um direito de todos, que precisa ser respeitado. Pretendemos, também demonstrar a viabilidade da inclusão pela transformação geral das escolas, visando a atender aos princípios deste novo paradigma educacional.
Para descrever o nosso caminho na direção das escolas inclusivas vamos focalizar nossas experiências, no cenário educacional brasileiro sob três ângulos : o dos desafios provocados por essa inovação, o das ações no sentido de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o trabalho de formação de professores e, finalmente o das perspectivas que se abrem à educação escolar, a partir de sua implementação.
UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS
O princípio democrático da educação para todos só se evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível básico.
O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem aptas para responder às necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com suas especificidades, sem cair nas teias da educação especial e suas modalidades de exclusão.
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas também as que são pobres, as que não vão às aulas porque trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as que de tanto repetir desistiram de estudar.
OS DESAFIOS
Toda criança precisa da escola para aprender e não para marcar passo ou ser segregada em classes especiais e atendimentos à parte. A trajetória escolar não pode ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas águas os alunos podem afundar. Mas há sistemas organizacionais de ensino que tornam esse percurso muito difícil de ser vencido, uma verdadeira competição entre a correnteza do rio e a força dos que querem se manter no seu curso principal.
Um desses sistemas, que muito apropriadamente se denomina "de cascata", prevê a exclusão de algumas crianças, que têm déficits temporários ou permanentes e em função dos quais apresentam dificuldades para aprender. Esse sistema contrapõe-se à melhoria do ensino nas escolas, pois mantém ativo, o ensino especial, que atende aos alunos que caíram na cascata, por não conseguirem corresponder às exigências e expectativas da escola regular. Para se evitar a queda na cascata, na maioria das vezes sem volta, é preciso remar contra a correnteza, ou seja, enfrentar os desafios da inclusão : o ensino de baixa qualidade e o subsistema de ensino especial, desvinculadae justaposto ao regular.
Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um desafio que precisa ser assumido por todos os educadores. É um compromisso inadiável das escolas, pois a educação básica é um dos fatores do desenvolvimento econômico e social. Trata-se de uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos modelos tradicionais de organização do sistema escolar.
Se hoje já podemos contar com uma Lei Educacional que propõe e viabiliza novas alternativas para melhoria do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na maioria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a todos os alunos, indistinta e incondicionalmente. O que existe em geral são projetos de inclusão parcial, que não estão associados a mudanças de base nas escolas e que continuam a atender aos alunos com deficiência em espaços escolares semi ou totalmente segregados (classes especiais, salas de recurso, turmas de aceleração, escolas especiais, os serviços de itinerância).
As escolas que não estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas regulares se justificam, na maioria das vezes pelo despreparo dos seus professores para esse fim. Existem também as que não acreditam nos benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situação, especialmente os casos mais graves, pois não teriam condições de acompanhar os avanços dos demais colegas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados do que nas classes e escolas especiais.
Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado é a necessidade de se redefinir e de se colocar em ação novas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a todos os alunos, o que, implica na atualização e desenvolvimento de conceitos e em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio.
Muda então a escola ou mudam os alunos, para se ajustarem às suas velhas exigências ? Ensino especializado em todas as crianças ou ensino especial para deficientes? Professores que se aperfeiçoam para exercer suas funções, atendendo às peculiaridades de todos os alunos, ou professores especializados para ensinar aos que não aprendem e aos que não sabem ensinar?
AS AÇÕES
Visando os aspectos organizacionais
Ao nosso ver é preciso mudar a escola e mais precisamente o ensino nelas ministrado. A escola aberta para todos é a grande meta e, ao mesmo tempo, o grande problema da educação na virada do século.
Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige trabalho em muitas frentes. Destacaremos as que consideramos primordiais, para que se possa transformar a escola , em direção de um ensino de qualidade e, em consequência, inclusivo.
Temos de agir urgentemente:
• colocando a aprendizagem como o eixo das escolas, porque escola foi feita para fazer com que todos os alunos aprendam;
• garantindo tempo para que todos possam aprender e reprovando a repetência;
• abrindo espaço para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam exercitados nas escolas, por professores, administradores, funcionários e alunos, pois são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania;
• estimulando, formando continuamente e valorizando o professor que é o responsável pela tarefa fundamental da escola - a aprendizagem dos alunos;
• elaborando planos de cargos e aumentando salários, realizando concursos públicos de ingresso, acesso e remoção de professores.
Que ações implementar para que a escola mude ?
Para melhorar as condições pelas quais o ensino é ministrado nas escolas, visando, universalizar o acesso, ou seja, a inclusão de todos, incondicionalmente, nas turmas escolares e democratizar a educação, sugerimos o que, felizmente, já está ocorrendo em muitas redes de ensino, verdadeiras vitrines que expõem o sucesso da inclusão.
A primeira sugestão para que se caminhe para uma educação de qualidade é estimular as escolas para que elaborem com autonomia e de forma participativa o seu Projeto Político Pedagógico, diagnosticando a demanda, ou seja, verificando quantos são os alunos, onde estão e porque alguns estão fora da escola.
Sem que a escola conheça os seus alunos e os que estão à margem dela, não será possível elaborar um currículo escolar que reflita o meio social e cultural em que se insere. A integração entre as áreas do conhecimento e a concepção transversal das novas propostas de organização curricular consideram as disciplinas acadêmicas como meios e não fins em si mesmas e partem do respeito à realidade do aluno, de suas experiências de vida cotidiana, para chegar à sistematização do saber.
Como essa experiência varia entre os alunos, mesmo sendo membros de uma mesma comunidade, a implantação dos ciclos de formação é uma solução justa, embora ainda muito incompreendida pelos professores e pais, por ser uma novidade e por estar sendo ainda pouco difundida e aplicada pelas redes de ensino. De fato, se dermos mais tempo para que os alunos aprendam, eliminando a seriação, a reprovação, nas passagens de um ano para outro, estaremos adequando o processo de aprendizagem ao ritmo e condições de desenvolvimento dos aprendizes - um dos princípios das escolas de qualidade para todos
Por outro lado, a inclusão não implica em que se desenvolva um ensino individualizado para os alunos que apresentam déficits intelectuais, problemas de aprendizagem e outros, relacionados ao desempenho escolar. Na visão inclusiva, não se segregam os atendimentos, seja dentro ou fora das salas de aula e, portanto, nenhum aluno é encaminhado à salas de reforço ou aprende, a partir de currículos adaptados. O professor não predetermina a extensão e a profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos alunos, nem facilita as atividades para alguns, porque, de antemão já prevê q dificuldade que possam encontrar para realizá-las. Porque é o aluno que se adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de regular o seu processo de construção intelectual.
A avaliação constitui um outro entrave à implementação da inclusão. É urgente suprimir o caráter classificatório da avaliação escolar, através de notas, provas, pela visão diagnóstica desse processo que deverá ser contínuo e qualitativo, visando depurar o ensino e torná-lo cada vez mais adequado e eficiente à aprendizagem de todos os alunos. Essa medida já diminuiria substancialmente o número de alunos que são indevidamente avaliados e categorizados como deficientes, nas escolas regulares.
A aprendizagem como o centro das atividades escolares e o sucesso dos alunos, como a meta da escola, independentemente do nível de desempenho a que cada um seja capaz de chegar são condições de base para que se caminha na direção de escolas acolhedoras. O sentido desse acolhimento não é o da aceitação passiva das possibilidades de cada um, mas o de serem receptivas a todas as crianças, pois as escolas existem, para formar as novas gerações, e não apenas alguns de seus futuros membros, os mais privilegiados.
A inclusão não prevê a utilização de métodos e técnicas de ensino específicas para esta ou aquela deficiência. Os alunos aprendem até o limite em que conseguem chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o professor considera o nível de possibilidades de desenvolvimento de cada um e explora essas possibilidades, por meio de atividades abertas, nas quais cada aluno se enquadra por si mesmo, na medida de seus interesses e necessidades, seja para construir uma idéia, ou resolver um problema, realizar uma tarefa. Eis aí um grande desafio a ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais, cujo paradigma é condutista, e baseado na transmissão dos conhecimentos.
O trabalho coletivo e diversificado nas turmas e na escola como um todo é compatível com a vocação da escola de formar as gerações. É nos bancos escolares que aprendemos a viver entre os nossos pares, a dividir as responsabilidades, repartir as tarefas. O exercício dessas ações desenvolve a cooperação, o sentido de se trabalhar e produzir em grupo, o reconhecimento da diversidade dos talentos humanos e a valorização do trabalho de cada pessoa para a consecução de metas comuns de um mesmo grupo.
O tutoramento nas salas de aula tem sido uma solução natural, que pode ajudar muito os alunos, desenvolvendo neles o hábito de compartilhar o saber. O apoio ao colega com dificuldade é uma atitude extremamente útil e humana e que tem sido muito pouco desenvolvida nas escolas, sempre tão competitivas e despreocupadas com a a construção de valores e de atitudes morais.
Além dessas sugestões, referentes ao ensino nas escolas, a educação de qualidade para todos e a inclusão implicam em mudanças de outras condições relativas à administração e aos papéis desempenhados pelos membros da organização escolar.
Nesse sentido é primordial que sejam revistos os papéis desempenhados pelos diretores e coordenadores, no sentido de que ultrapassem o teor controlador, fiscalizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de apoio, orientação do professor e de toda a comunidade escolar.
A descentralização da gestão administrativa, por sua vez, promove uma maior autonomia pedagógica, administrativa e financeira de recursos materiais e humanos das escolas, por meio dos conselhos, colegiados, assembléias de pais e de alunos. Mudam-se os rumos da administração escolar e com isso o aspecto pedagógico das funções do diretor e dos coordenadores e supervisores emerge. Deixam de existir os motivos pelos quais que esses profissionais ficam confinados aos gabinetes, às questões burocráticas, sem tempo para conhecer e participar do que acontece nas salas de aula.
Visando a formação continuada dos professores
Sabemos que, no geral, os professores são bastante resistentes às inovações educacionais, como a inclusão. A tendência é se refugiarem no impossível, considerando que a proposta de uma educação para todos é válida, porém utópica, impossível de ser concretizada com muitos alunos e nas circunstâncias em que se trabalha, hoje, nas escolas, principalmente nas redes públicas de ensino.
A maioria dos professores têm uma visão funcional do ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de trabalho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de aula é rejeitado. Também reconhecemos que as inovações educacionais abalam a identidade profissional, e o lugar conquistado pelos professores em uma dada estrutura ou sistema de ensino, atentando contra a experiência, os conhecimentos e o esforço que fizeram para adquiri-los.
Os professores, como qualquer ser humano, tendem a adaptar uma situação nova às anteriores. E o que é habitual, no caso dos cursos de formação inicial e na educação continuada, é a separação entre teoria e prática. Essa visão dicotômica do ensino dificulta a nossa atuação, como formadores. Os professores reagem inicialmente à nossa metodologia, porque estão habituados a aprender de maneira incompleta, fragmentada e essencialmente instrucional. Eles esperam aprender uma prática inclusiva, ou melhor, uma formação que lhes permita aplicar esquemas de trabalho pré-definidos às suas salas de aulas, garantindo-lhes a solução dos problemas que presumem encontrar nas escolas inclusivas.
Em uma palavra, os professores acreditam que a formação em serviço lhes assegurará o preparo de que necessitam para se especializarem em todos os alunos, mas concebem essa formação como sendo mais um curso de extensão, de especialização com uma terminalidade e com um certificado que lhes convalida a capacidade de efetivar a inclusão escolar. Eles introjetaram o papel de praticantes e esperam que os formadores lhes ensinem o que é preciso fazer, para trabalhar com níveis diferentes de desempenho escolar, transmitindo-lhes os novos conhecimentos, conduzindo-lhes da mesma maneira como geralmente trabalham com seus próprios alunos. Acreditam que os conhecimentos que lhes faltam para ensinar as crianças com deficiência ou dificuldade de aprender por outras incontáveis causas referem-se primordialmente à conceituação, etiologia, prognósticos das deficiências e que precisam conhecer e saber aplicar métodos e técnicas específicas para a aprendizagem escolar desses alunos. Os dirigentes das redes de ensino e das escolas particulares também pretendem o mesmo, num primeiro momento, em que solicitam a nossa colaboração.
Se de um lado é preciso continuar investindo maciçamente na direção da formação de profissionais qualificados, não se pode descuidar da realização dessa formação e estar atento ao modo pelo qual os professores aprendem para se profissionalizar e para aperfeiçoar seus conhecimentos pedagógicos, assim como reagem às novidades, aos novos possíveis educacionais.
A metodologia
Diante dessas circunstâncias e para que possamos atingir nossos propósitos de formar professores para uma escola de qualidade para todos, idealizamos um projeto de formação que tem sido adotado por redes de ensino públicas e escolas particulares brasileiras, desde 1991.
Nossa proposta de formação se baseia em princípios educacionais construtivistas, pois reconhecemos que a cooperação, a autonomia intelectual e social, a aprendizagem ativa e a cooperação são condições que propiciam o desenvolvimento global de todos os alunos, assim como a capacitação e o aprimoramento profissional dos professores.
Nesse contexto, o professor é uma referência para o aluno e não apenas um mero instrutor, pois enfatizamos a importância de seu papel tanto na construção do conhecimento, como na formação de atitudes e valores do futuro cidadão. Assim sendo, a formação continuada vai além dos aspectos instrumentais de ensino.
A metodologia que adotamos reconhece que o professor, assim como o seu aluno, não aprendem no vazio. Assim sendo, partimos do "saber fazer" desses profissionais, que já possuem conhecimentos, experiências, crenças, esquemas de trabalho, ao entrar em contato com a inclusão ou qualquer outra inovação.
Em nossos projetos de aprimoramento e atualização do professor consideramos fundamental o exercício constante de reflexão e o compartilhamento de idéias, sentimentos, ações entre os professores, diretores, coordenadores da escola. Interessam-nos as experiências concretas, os problemas reais, as situações do dia-a-dia que desequilibram o trabalho, nas salas de aula. Eles são a matéria-prima das mudanças. O questionamento da própria prática, as comparações, a análise das circunstâncias e dos fatos que provocam perturbações e/ou respondem pelo sucesso vão definindo, pouco a pouco, aos professores as suas "teorias pedagógicas". Pretendemos que os professores sejam capazes de explicar o que outrora só sabiam reproduzir, a partir do que aprendiam em cursos, oficinas, palestras, exclusivamente. Incentivamos os professores para que interajam com seus colegas com regularidade, estudem juntos, com e sem o nosso apoio técnico e que estejam abertos para colaborar com seus pares, na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão.
O fato de os professores fundamentarem suas práticas e argumentos pedagógicos no senso comum dificulta a explicitação dos problemas de aprendizagem. Essa dificuldade pode mudar o rumo da trajetória escolar de alunos que muitas vezes são encaminhados indevidamente para as modalidades do ensino especial e outras opções segregativas de atendimento educacional.
Daí a necessidade de se formarem grupos de estudos nas escolas, para a discussão e a compreensão dos problemas educacionais, à luz do conhecimento científico e interdisciplinarmente, se possível. Os grupos são organizados espontaneamente pelos próprios professores, no horário em que estão nas escolas e são acompanhados, inicialmente, pela equipe da rede de ensino, encarregada da coordenação das ações de formação. As reuniões têm como ponto de partida, as necessidades e interesse comuns de alguns professores de esclarecer situações e de aperfeiçoar o modo como trabalham nas salas de aula. O foco dos estudos está na resolução dos problemas de aprendizagem, o que remete à análise de como o ensino está sendo ministrado, pois o processo de construção do conhecimento é interativo e os seus dois lados devem ser analisados, quando se quer esclarecê-lo.
Participam dos grupos, além dos professores, o diretor da escola, coordenadores, mas há grupos que se formam entre membros de diversas escolas, que estejam voltados para um mesmo tema de estudo, como por exemplo a indisciplina, a sexualidade, a ética e a violência, a avaliação e outros assuntos pertinentes.
A equipe responsável pela coordenação da formação é constituída por professores, coordenadores, que são da própria rede de ensino, e por parceiros de outras Secretarias afins: Saúde, Esportes, Cultura. Nós trabalhamos diretamente com esses profissionais, mas também participamos do trabalho nas escolas, acompanhando-as esporadicamente, quando somos solicitados - minha equipe de alunos e eu.
Os Centros de Desenvolvimento do Professor
Algumas redes de ensino criaram o que chamamos de Centros de Desenvolvimento do Professor, os quais representam um avanço nessa nova direção de formação continuada, que estamos propondo, pois sediam a maioria das ações de aprimoramento da rede, promovendo eventos de pequeno, médio e grande porte, como workshops, seminários, entrevistas, com especialistas, fóruns e outras atividades. Sejam atendendo individualmente, como em pequenos e grandes grupos os professores, pais, comunidade. Os referidos Centros também se dedicam ao encaminhamento e atendimento de alunos que necessitam de tratamento clínico, em áreas que não sejam a escolar, propriamente dita.
Temos estimulado em todas as redes em que atuamos a criação dos centros, pois ao nosso ver, eles resumem o que pretendemos, quando nos referimos à formação continuada - um local em que o professor e toda comunidade escolar vem para realimentar o conhecimento pedagógico, além de servir igualmente aos alunos e a todos os interessados pela educação, no município.
Ao nosso ver, os cursos e demais atividades de formação em serviço, habitualmente oferecidos aos professores não estão obtendo o retorno que o investimento propõe. Temos insistido na criação desses Centros, porque a existência de seus serviços redireciona o que já é usual nas redes de ensino, ou seja, o apoio ao professor, pelos itinerantes. Não concordamos com esse suporte a alunos e professores com dificuldades, porque "apagam incêndio", agem sobre os sintomas, oferecem soluções particularizadas, locais, mas não vão à fundo no problema e suas causas. Os serviços itinerantes de apoio não solicitam o professor, no sentido de que se mobilize, de que reveja sua prática. Sua existência não obriga o professor a assumir a responsabilidade pela aprendizagem de todos os alunos, pois já existe um especialista para atender aos caso mais difíceis, que são os que justamente fazem o professor evoluir, na maneira de proceder com a turma toda. Porque se um aluno não vai bem, seja ele uma pessoa com ou sem deficiência, o problema precisa ser analisado não apenas com relação às reações dessa ou de outra criança, mas ao grupo como um todo, ao ensino que está sendo ministrado, para que os alunos possam aprender, naquele grupo.
A itinerância não faz evoluir as práticas, o conhecimento pedagógico dos professores. Ë, na nossa opinião, mais uma modalidade da educação especial que acomoda o professor do ensino regular, tirando-lhe a oportunidade de crescer, de sentir a necessidade de buscar soluções e não aguardar que alguém de fora venha, regularmente, para resolver seus problemas. Esse serviço igualmente reforça a idéia de que os problemas de aprendizagem são sempre do aluno e que ó o especialista poderá se incumbir de removê-los, com adequação e eficiência.
O tipo de formação que estamos implementando para tornar possível a inclusão implica no estabelecimento de parcerias entre professores, alunos, escolas, profissionais de outras áreas afins, Universidades, para que possa se manter ativa e capaz de fazer frente às inúmeras solicitações que essa modalidade de trabalho provoca nos interessados. Por outro lado, essas parcerias ensejam o desenvolvimento de outras ações, entre as quais a investigação educacional e em outros ramos do conhecimento. São nessas redes e a partir dessa formação que estamos pesquisando e orientando trabalhos de nossos alunos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação / Unicamp e onde estamos observando os efeitos desse trabalho, nas redes.
Não dispensamos os cursos, oficinas e outros eventos de atualização e de aperfeiçoamento, quando estes são reinvindicados pelo professor e nesse sentido a parceria com outros grupos de pesquisa da Unicamp e colegas de outras Universidades têm sido muito eficiente. Mas há cursos que oferecemos aos professores, que são ministrados por seus colegas da própria rede, quando estes se dispõe a oferecê-los ou são convidados por nós, ao conhecermos o valor de sua contribuição para os demais.
As escolas e professores com os quais estamos trabalhando já apresentam sintomas pelos quais podemos perceber que estão evoluindo dia -a- dia para uma Educação de qualidade para Todos. Esses sintomas podem ser resumidos no que segue:
• reconhecimento e valorização da diversidade, como elemento enriquecedor do processo de ensino e aprendizagem;
• professores conscientes do modo como atuam, para promover a aprendizagem de todos os alunos;
• cooperação entre os implicados no processo educativo - dentro e fora da escola;
• valorização do processo sobre o produto da aprendizagem;
• enfoques curriculares, metodológicos e estratégias pedagógicas que possibilita, a construção coletiva do conhecimento.
É preciso, contudo, considerar que a avaliação dos efeitos de nossos projetos não se centram no aproveitamento de alguns alunos, os deficientes, nas classes regulares. Embora estes casos sejam objeto de nossa atenção, queremos acima de tudo saber se os professores evoluíram na sua maneira de fazer acontecer a aprendizagem nas suas salas de aula; se as escolas se transformaram, se as crianças estão sendo respeitadas nas suas possibilidades de avançar, autonomamente, na construção dos conhecimentos acadêmicos; se estes estão sendo construídos no coletivo escolar, em clima de solidariedade; se a as relações entre as crianças, pais, professores e toda a comunidade escolar se estreitaram, nos laços da cooperação, do diálogo, fruto de um exercício diário de compartilhamento de seus deveres, problemas, sucessos.
Outras alternativas de formação
Para ampliar essas parcerias estamos utilizando também as redes de comunicação à distância para intercâmbios de experiências entre alunos e profissionais da educação, pais e comunidade. Embora ainda incipiente, o Caleidoscópio - Um Projeto de Educação Para Todos é o nosso site na Internet e por meio deste hipertexto estamos trabalhando no sentido de provocar a interatividade presencial e virtual entre as escolas, como mais uma alternativa de formação continuada, que envolve os alunos, as escolas e a rede como um todo. O Caleidoscópio tem sido objeto de estudos de nossos alunos e de outras unidades da Unicamp, relacionadas à ciência da computação e está crescendo como proposta e abrindo canais de participação com a comunidade e com outras instituições que se propõe a participar do movimento inclusivo, dentro e fora das escolas.
Se pretendemos mudanças nas práticas de sala de aula, não podemos continuar formando e aperfeiçoando os professores como se as inovações só se referissem à aprendizagem dos alunos da educação infantil, da escola fundamental e do ensino médio...
AS PERSPECTIVAS
A escola para a maioria das crianças brasileiras é o único espaço de acesso aos conhecimentos universais e sistematizados, ou seja, é o lugar que vai lhes proporcionar condições de se desenvolver e de se tornar um cidadão , alguém com identidade social e cultural
Melhorar as condições da escola é formar gerações mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livremente, sem preconceitos, sem barreiras. Não podemos nos contradizer nem mesmo contemporizar soluções, mesmo que o preço que tenhamos de pagar seja bem alto, pois nunca será tão alto quanto o resgate de uma vida escolar marginalizada, uma evasão, uma criança estigmatizada, sem motivos.
A escola prepara o futuro e de certo que se as crianças conviverem e aprenderem a valorizar a diversidade nas suas salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós, que temos de nos empenhar tanto para defender o indefensável.
A inclusão escolar remete a escola a questões de estrutura e de funcionamento que subvertem seus paradigmas e que implicam em um redimensionamento de seu papel, para um mundo que evolui a "bytes".
O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e qualquer mudança, especialmente no meio educacional, é irreversível e convence a todos pela sua lógica, pela ética de seu posicionamento social.
A inclusão está denunciando o abismo existente entre o velho e o novo na instituição escolar brasileira. A inclusão é reveladora dessa distância que precisa ser preenchida com as ações que relacionamos anteriormente.
Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, ao nosso ver, dependendo de uma expansão rápida dos projetos verdadeiramente embuídos do compromisso de transformar a escola, para se adequar aos novos tempos.
Se hoje ainda são experiências locais, as que estão demonstrando a viabilidade da inclusão, em escolas e redes de ensino brasileiras, estas experiências têm a força do óbvio e a clareza da simplicidade e só essas virtudes são suficientes para se antever o crescimento desse novo paradigma no sistema educacional.
Não se muda a escola com um passe de mágica.
A implementação da escola de qualidade, que é igualitária, justa e acolhedora para todos, é um sonho possível.
A aparente fragilidade das pequenas iniciativas, ou seja, essas experiências locais que têm sido suficientes para enfrentar o poder da máquina educacional, velha e enferrujada, com segurança e tranquilidade. Essas iniciativas têm mostrado a viabilidade da inclusão escolar nas escolas brasileiras.
As perspectivas do ensino inclusivo são, pois, animadoras e alentadoras para a nossa educação. A escola é do povo, de todas as crianças, de suas famílias, das comunidade, em que se inserem.
Crianças, bem-vindas à uma nova escola !
BIBLIOGRAFIA
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Integração x Inclusão: Escola (de qualidade) para Todos
Maria Teresa Eglér Mantoan
Universidade Estadual de Campinas - Faculdade de Educação
Departamento de Metodologia de Ensino
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade - LEPED/UNICAMP
Sabemos que a situação atual do atendimento às necessidades escolares da criança brasileira é responsável pelos índices assustadores de repetência e evasão no ensino fundamental. Entretanto, no imaginário social, como na cultura escolar, a incompetência de certos alunos - os pobres e os deficientes - para enfrentar as exigências da escolaridade regular é uma crença que aparece na simplicidade das afirmações do senso comum e até mesmo em certos argumentos e interpretações teóricas sobre o tema.
Por outro lado, já se conhece o efeito solicitador do meio escolar regular no desenvolvimento de pessoas com deficiências (Mantoan:1988) e é mesmo um lugar comum afirmar-se que é preciso respeitar os educandos em sua individualidade, para não se condenar uma parte deles ao fracasso e às categorias especiais de ensino. Ainda assim, é ousado para muitos, ou melhor, para a maioria das pessoas, a idéia de que nós, os humanos, somos seres únicos, singulares e que é injusto e inadequado sermos categorizados, a qualquer pretexto!
Todavia, apesar desses e de outros contra-sensos, sabemos que é normal a presença de déficits em nossos comportamentos e em áreas de nossa atuação, pessoal ou grupal, assim como em um ou outro aspecto de nosso desenvolvimento físico, social, cultural, por sermos seres perfectíveis, que constróem, pouco a pouco e, na medida do possível, suas condições de adaptação ao meio. A diversidade no meio social e, especialmente no ambiente escolar, é fator determinante do enriquecimento das trocas, dos intercâmbios intelectuais, sociais e culturais que possam ocorrer entre os sujeitos que neles interagem.
Acreditamos que o aprimoramento da qualidade do ensino regular e a adição de princípios educacionais válidos para todos os alunos, resultarão naturalmente na inclusão escolar dos deficientes. Em consequência, a educação especial adquirirá uma nova significação. Tornar-se-á uma modalidade de ensino destinada não apenas a um grupo exclusivo de alunos, o dos deficientes, mas especializada no aluno e dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento de novas maneiras de se ensinar, adequadas à heterogeneidade dos aprendizes e compatível com os ideais democráticos de uma educação para todos.
Nessa perspectiva, os desafios que temos a enfrentar são inúmeros e toda e qualquer investida no sentido de se ministrar um ensino especializado no aluno depende de se ultrapassar as condições atuais de estruturação do ensino escolar para deficientes. Em outras palavras, depende da fusão do ensino regular com o especial.
Ora, fusão não é junção, justaposição, agregação de uma modalidade à outra. Fundir significa incorporar elementos distintos para se criar uma nova estrutura, na qual desaparecem os elementos iniciais, tal qual eles são originariamente. Assim sendo, instalar uma classe especial em uma escola regular nada mais é do que uma justaposição de recursos, assim como o são outros, que se dispõem do mesmo modo.
Outros obstáculos à consecução de um ensino especializado no aluno, implicam a adequação de novos conhecimentos oriundos das investigações atuais em educação e de outras ciências às salas de aula, às intervenções tipicamente escolares, que têm uma vocação institucional específica de sistematizar os conhecimentos acadêmicos, as disciplinas curriculares. De fato, nem sempre os estudos e as comprovações científicas são diretamente aplicáveis à realidade escolar e as implicações pedagógicas que podemos retirar de um novo conhecimento também precisam de ser testadas, para confirmar sua eficácia no domínio do ensino escolar.
O paradigma vigente de atendimento especializado e segregativo é extremamente forte e enraizado no ideário das instituições e na prática dos profissionais que atuam no ensino especial. A indiferenciação entre os significados específicos dos processos de integração e inclusão escolar reforça ainda mais a vigência do paradigma tradicional de serviços e muitos continuam a mantê-lo, embora estejam defendendo a integração!
Ocorre que os dois vocábulos - integração e inclusão - conquanto tenham significados semelhantes, estão sendo empregados para expressar situações de inserção diferentes e têm por detrás posicionamentos divergentes para a consecução de suas metas. A noção de integração tem sido compreendida de diversas maneiras, quando aplicada à escola. Os diversos significados que lhe são atribuídos devem-se ao uso do termo para expressar fins diferentes, sejam eles pedagógicos, sociais, filosóficos e outros. O emprego do vocábulo é encontrado até mesmo para designar alunos agrupados em escolas especiais para deficientes, ou mesmo em classes especiais, grupos de lazer, residências para deficientes. Por tratar-se de um constructo histórico recente, que data dos anos 60, a integração sofreu a influência dos movimentos que caracterizaram e reconsideraram outras idéias, como as de escola, sociedade, educação. O número crescente de estudos referentes à integração escolar e o emprego generalizado do termo têm levado a muita confusão a respeito das idéias que cada caso encerra.
Os movimentos em favor da integração de crianças com deficiência surgiram nos países nórdicos (Nirje, 1969), quando se questionaram as práticas sociais e escolares de segregação, assim como as atitudes sociais em relação às pessoas com deficiência intelectual.
A noção de base em matéria de integração é o princípio de normalização, que não sendo específico da vida escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades humanas e todas as etapas da vida das pessoas, sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação. A normalização visa tornar accessível às pessoas socialmente desvalorizadas condições e modelos de vida análogos aos que são disponíveis de um modo geral ao conjunto de pessoas de um dado meio ou sociedade; implica a adoção de um novo paradigma de entendimento das relações entre as pessoas fazendo-se acompanhar de medidas que objetivam a eliminação de toda e qualquer forma de rotulação.
Modalidades de inserção
Uma das opções de integração escolar denomina-se mainstreaming, ou seja, "corrente principal" e seu sentido é análogo a um canal educativo geral, que em seu fluxo vai carregando todo tipo de aluno com ou sem capacidade ou necessidade específica. O aluno com deficiência mental ou com dificuldades de aprendizagem, pelo conceito referido, deve ter acesso à educação, sua formação sendo adaptada às suas necessidades específicas. Existe um leque de possibilidades e de serviços disponíveis aos alunos, que vai da inserção nas classes regulares ao ensino em escolas especiais. Este processo de integração se traduz por uma estrutura intitulada sistema de cascata, que deve favorecer o "ambiente o menos restritivo possível", dando oportunidade ao aluno, em todas as etapas da integração, transitar no "sistema", da classe regular ao ensino especial. Trata-se de uma concepção de integração parcial, porque a cascata prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos objetivos da normalização.
De fato, os alunos que se encontram em serviços segregados muito raramente se deslocam para os menos segregados e, raramente, às classes regulares. A crítica mais forte ao sistema de cascata e às políticas de integração do tipo mainstreaming afirma que a escola oculta seu fracasso, isolando os alunos e só integrando os que não constituem um desafio à sua competência (Doré et alii.,1996). Nas situações de mainstreaming nem todos os alunos cabem e os elegíveis para a integração são os que foram avaliados por instrumentos e profissionais supostamente objetivos. O sistema se baseia na individualização dos programas instrucionais, os quais devem se adaptar às necessidades de cada um dos alunos, com deficiência ou não.
A outra opção de inserção é a inclusão, que questiona não somente as políticas e a organização da educação especial e regular, mas também o conceito de integração - mainstreaming. A noção de inclusão não é incompatível com a de integração, porém institue a inserção de uma forma mais radical, completa e sistemática. O conceito se refere à vida social e educativa e todos os alunos devem ser incluídos nas escolas regulares e não somente colocados na "corrente principal". O vocábulo integração é abandonado, uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou um grupo de alunos que já foram anteriormente excluídos; a meta primordial da inclusão é a de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo. As escolas inclusivas propõem um modo de se constituir o sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades. A inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apoia a todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. O impacto desta concepção é considerável, porque ela supõe a abolição completa dos serviços segregados (Doré et alii. 1996). A metáfora da inclusão é a do caleidoscópio. Esta imagem foi muito bem descrita no que segue: "O caleidoscópio precisa de todos os pedaços que o compõem. Quando se retira pedaços dele, o desenho se torna menos complexo, menos rico. As crianças se desenvolvem, aprendem e evoluem melhor em um ambiente rico e variado" (Forest et Lusthaus, 1987 : 6).
A inclusão propiciou a criação de inúmeras outras maneiras de se realizar a educação de alunos com deficiência mental nos sistemas de ensino regular, como as "escolas heterogêneas" (Falvey et alii., 1989), as "escolas acolhedoras" (Purkey et Novak, 1984), os "currículos centrados na comunidade" (Peterson et alii.,1992).
Resumindo, a integração escolar, cuja metáfora é o sistema de cascata, é uma forma condicional de inserção em que vai depender do aluno, ou seja, do nível de sua capacidade de adaptação às opções do sistema escolar, a sua integração, seja em uma sala regular, uma classe especial, ou mesmo em instituições especializadas. Trata-se de uma alternativa em que tudo se mantém, nada se questiona do esquema em vigor. Já a inclusão institui a inserção de uma forma mais radical, completa e sistemática, uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou grupo de alunos que não foram anteriormente excluídos. A meta da inclusão é, desde o início não deixar ninguém fora do sistema escolar, que terá de se adaptar às particularidades de todos os alunos para concretizar a sua metáfora - o caleidoscópio.
Considerações finais
De certo que a inclusão se concilia com uma educação para todos e com um ensino especializado no aluno, mas não se consegue implantar uma opção de inserção tão revolucionária sem enfrentar um desafio ainda maior : o que recai sobre o fator humano. Os recursos físicos e os meios materiais para a efetivação de um processo escolar de qualidade cedem sua prioridade ao desenvolvimento de novas atitudes e formas de interação, na escola, exigindo mudanças no relacionamento pessoal e social e na maneira de se efetivar os processos de ensino e aprendizagem. Nesse contexto, a formação do pessoal envolvido com a educação é de fundamental importância, assim como a assistência às famílias, enfim, uma sustentação aos que estarão diretamente implicados com as mudanças é condição necessária para que estas não sejam impostas, mas imponham-se como resultado de uma consciência cada vez mais evoluída de educação e de desenvolvimento humano.
Referências bibliográficas
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possível construir uma mentalidade inclusiva?
François Xavier-Berthou, Priscila Alves Vasconcelos,
Priscila Augusta Lima e Renata Maria Lima Novaes *
A sociedade brasileira vivencia um processo reivindicado há muitas décadas. Trata-se da inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas comuns da rede regular de ensino. Este foi o tema do 1 o Ciclo de Debates Educação e Necessidades Educacionais Especiais , promovido pelo Grupo de Estudos de Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais (Geine/Fae), realizado em novembro de 2004 na Faculdade de Educação. O evento contou com a participação de professores da UFMG e de outras instituições, estudantes, profissionais e pessoas da comunidade em geral. O segundo ciclo será realizado em junho de 2005, como atividade de disciplina do curso de Pedagogia.
Ao refletir sobre os debates, os participantes do Geine observaram que nessas ocasiões afloram diferentes concepções do processo de inclusão. Os depoimentos mostraram que muitas escolas comuns têm alunos com deficiências nas salas de aula. Há alunos cegos freqüentando escolas municipais e estudantes com Síndrome de Down nas estaduais. Mesmo diante deste fato, alguns especialistas da educação afirmam: “Isto não é inclusão!” E muitos profissionais da educação rebatem: “Estamos fazendo inclusão!”. Em algumas reuniões do Geine, as professoras nos questionam diante da chegada de um aluno especial: “Estamos agindo certo? Estamos fazendo inclusão?”.
Pesquisadores que atuam em diversos países definem a inclusão como uma transformação na escola, uma reestruturação para atender a todo tipo de aluno: pessoas com deficiências físicas, mentais, sensoriais ou múltiplas e com qualquer grau de severidade dessas deficiências; homens e mulheres sem deficiências ou com características atípicas. Tendo como referência o princípio da igualdade de direitos e reconhecendo toda a diversidade existente entre os seres humanos, esses estudiosos reafirmam a educação como um bem comum e um direito de todos.
Compreendemos que as questões formuladas mostram o interesse destas escolas e professores em contribuírem para o processo de inclusão. Embora retratem uma situação que não é a ideal, tais questões revelam a reflexão dos professores e a sua compreensão de que todos são sujeitos, com direitos fundamentais e, dentre esses direitos, está a Educação. Apesar de estarmos diante de um processo novo, somos informados e observamos que muitos alunos com necessidades especiais estão se afirmando em espaços escolares e melhorando sua auto-estima. A chegada desses alunos à escola é necessária para que os professores se mobilizem e para que a inclusão possa se consolidar.
Encontramos, no início do século 21, pessoas com deficiências nos mais diversos ambientes de trabalho, nos supermercados e s hoppings. A inclusão está em curso, mas ainda se faz exclusão. Há um movimento para incluir e também obstáculos a esse processo. Por um lado, sabemos ser impossível à escola e, mesmo aos sistemas de ensino, predizer todas as possibilidades educacionais necessárias com a incorporação de todos os alunos à escola comum. Por outro, este fato não pode impedir o acesso à informação necessária para que, diante de cada aluno, o professor consiga orientar sua proposta educativa. Um acontecimento a ser considerado é que, na busca de qualificação despertada pela chegada de um aluno, o professor geralmente torna-se mais sensível às particularidades apresentadas por outros estudantes. Porém, a entrada de uma criança com deficiência também pode levar o professor a diversos conflitos. Ao, por exemplo, sentir-se despreparado para receber este novo aluno, ele pode não estimulá-lo a concretizar suas potencialidades. Assim, o estudante permanece naquele espaço físico, mas não estabelece uma interação favorável ao seu desenvolvimento.
Já em relação à formação do professor constatamos que muitas universidades ainda não efetivaram as ações previstas em lei para que os futuros docentes tenham a habilitação necessária. A ausência de espaços de diálogo promove o desconhecimento do tema e, com ele, receio, medo e preconceito. Por isso, na maioria das vezes, somente ao receber o estudante com necessidades especiais é que o professor busca qualificação adequada e informações sobre as necessidades educacionais do aluno e as possibilidades de intervenção pedagógica.
São de grande importância as medidas legais implementadas em favor da inclusão, como as alterações na materialidade escolar e a qualificação profissional. Mas a inclusão é um processo que, para além de tudo isso, passa pelas “mãos” de pessoas, em especial dos professores, que também são responsáveis pelo estímulo ao processo inclusivo. A ação dos mestres deve permitir que alunos com necessidades especiais tenham _ como os demais têm, ou deveriam ter _ condições de realizar suas potencialidades intelectuais ou de socialização.
A consciência da capacidade dos alunos pode ocorrer por meio da informação _ e isto não implica ausência de sensibilidade. Compreendemos que o preceito legal da inclusão deve ser cumprido e que isto está acima de qualquer discussão. Compreendemos também, a partir de nossas práticas cotidianas com pais, alunos, professores e pesquisadores, que, além de possibilitar o acesso à informação, é necessário estimular a sensibilidade do educador _ a sua faculdade de sentir, de experimentar sentimentos como ternura e simpatia. Para se efetivar, a construção de uma mentalidade inclusiva depende desta acolhida, que certamente não fica restrita à escola.
* Integrantes do Grupo de Estudos de Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais (Geine) da FaE
Maria Teresa Eglér Mantoan
Universidade Estadual de Campinas / Unicamp
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Reabilitação de Pessoas com Deficiência - LEPED/ FE/ Unicamp
A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido e um movimento muito polemizado pelos mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de todos à educação - e assim diz a Constituição !
Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado. As grandes inovações estão, muitas vezes na concretização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas que precisa ser desvelado, para que possa ser compreendido por todos e aceito sem outras resistências, senão aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades.
O objetivo de nossa participação neste evento é clarear o sentido da inclusão, como inovação, tornando-o compreensível, aos que se interessam pela educação como um direito de todos, que precisa ser respeitado. Pretendemos, também demonstrar a viabilidade da inclusão pela transformação geral das escolas, visando a atender aos princípios deste novo paradigma educacional.
Para descrever o nosso caminho na direção das escolas inclusivas vamos focalizar nossas experiências, no cenário educacional brasileiro sob três ângulos : o dos desafios provocados por essa inovação, o das ações no sentido de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o trabalho de formação de professores e, finalmente o das perspectivas que se abrem à educação escolar, a partir de sua implementação.
UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS
O princípio democrático da educação para todos só se evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível básico.
O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem aptas para responder às necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com suas especificidades, sem cair nas teias da educação especial e suas modalidades de exclusão.
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas também as que são pobres, as que não vão às aulas porque trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as que de tanto repetir desistiram de estudar.
OS DESAFIOS
Toda criança precisa da escola para aprender e não para marcar passo ou ser segregada em classes especiais e atendimentos à parte. A trajetória escolar não pode ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas águas os alunos podem afundar. Mas há sistemas organizacionais de ensino que tornam esse percurso muito difícil de ser vencido, uma verdadeira competição entre a correnteza do rio e a força dos que querem se manter no seu curso principal.
Um desses sistemas, que muito apropriadamente se denomina "de cascata", prevê a exclusão de algumas crianças, que têm déficits temporários ou permanentes e em função dos quais apresentam dificuldades para aprender. Esse sistema contrapõe-se à melhoria do ensino nas escolas, pois mantém ativo, o ensino especial, que atende aos alunos que caíram na cascata, por não conseguirem corresponder às exigências e expectativas da escola regular. Para se evitar a queda na cascata, na maioria das vezes sem volta, é preciso remar contra a correnteza, ou seja, enfrentar os desafios da inclusão : o ensino de baixa qualidade e o subsistema de ensino especial, desvinculadae justaposto ao regular.
Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um desafio que precisa ser assumido por todos os educadores. É um compromisso inadiável das escolas, pois a educação básica é um dos fatores do desenvolvimento econômico e social. Trata-se de uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos modelos tradicionais de organização do sistema escolar.
Se hoje já podemos contar com uma Lei Educacional que propõe e viabiliza novas alternativas para melhoria do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na maioria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a todos os alunos, indistinta e incondicionalmente. O que existe em geral são projetos de inclusão parcial, que não estão associados a mudanças de base nas escolas e que continuam a atender aos alunos com deficiência em espaços escolares semi ou totalmente segregados (classes especiais, salas de recurso, turmas de aceleração, escolas especiais, os serviços de itinerância).
As escolas que não estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas regulares se justificam, na maioria das vezes pelo despreparo dos seus professores para esse fim. Existem também as que não acreditam nos benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situação, especialmente os casos mais graves, pois não teriam condições de acompanhar os avanços dos demais colegas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados do que nas classes e escolas especiais.
Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado é a necessidade de se redefinir e de se colocar em ação novas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a todos os alunos, o que, implica na atualização e desenvolvimento de conceitos e em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio.
Muda então a escola ou mudam os alunos, para se ajustarem às suas velhas exigências ? Ensino especializado em todas as crianças ou ensino especial para deficientes? Professores que se aperfeiçoam para exercer suas funções, atendendo às peculiaridades de todos os alunos, ou professores especializados para ensinar aos que não aprendem e aos que não sabem ensinar?
AS AÇÕES
Visando os aspectos organizacionais
Ao nosso ver é preciso mudar a escola e mais precisamente o ensino nelas ministrado. A escola aberta para todos é a grande meta e, ao mesmo tempo, o grande problema da educação na virada do século.
Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige trabalho em muitas frentes. Destacaremos as que consideramos primordiais, para que se possa transformar a escola , em direção de um ensino de qualidade e, em consequência, inclusivo.
Temos de agir urgentemente:
• colocando a aprendizagem como o eixo das escolas, porque escola foi feita para fazer com que todos os alunos aprendam;
• garantindo tempo para que todos possam aprender e reprovando a repetência;
• abrindo espaço para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam exercitados nas escolas, por professores, administradores, funcionários e alunos, pois são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania;
• estimulando, formando continuamente e valorizando o professor que é o responsável pela tarefa fundamental da escola - a aprendizagem dos alunos;
• elaborando planos de cargos e aumentando salários, realizando concursos públicos de ingresso, acesso e remoção de professores.
Que ações implementar para que a escola mude ?
Para melhorar as condições pelas quais o ensino é ministrado nas escolas, visando, universalizar o acesso, ou seja, a inclusão de todos, incondicionalmente, nas turmas escolares e democratizar a educação, sugerimos o que, felizmente, já está ocorrendo em muitas redes de ensino, verdadeiras vitrines que expõem o sucesso da inclusão.
A primeira sugestão para que se caminhe para uma educação de qualidade é estimular as escolas para que elaborem com autonomia e de forma participativa o seu Projeto Político Pedagógico, diagnosticando a demanda, ou seja, verificando quantos são os alunos, onde estão e porque alguns estão fora da escola.
Sem que a escola conheça os seus alunos e os que estão à margem dela, não será possível elaborar um currículo escolar que reflita o meio social e cultural em que se insere. A integração entre as áreas do conhecimento e a concepção transversal das novas propostas de organização curricular consideram as disciplinas acadêmicas como meios e não fins em si mesmas e partem do respeito à realidade do aluno, de suas experiências de vida cotidiana, para chegar à sistematização do saber.
Como essa experiência varia entre os alunos, mesmo sendo membros de uma mesma comunidade, a implantação dos ciclos de formação é uma solução justa, embora ainda muito incompreendida pelos professores e pais, por ser uma novidade e por estar sendo ainda pouco difundida e aplicada pelas redes de ensino. De fato, se dermos mais tempo para que os alunos aprendam, eliminando a seriação, a reprovação, nas passagens de um ano para outro, estaremos adequando o processo de aprendizagem ao ritmo e condições de desenvolvimento dos aprendizes - um dos princípios das escolas de qualidade para todos
Por outro lado, a inclusão não implica em que se desenvolva um ensino individualizado para os alunos que apresentam déficits intelectuais, problemas de aprendizagem e outros, relacionados ao desempenho escolar. Na visão inclusiva, não se segregam os atendimentos, seja dentro ou fora das salas de aula e, portanto, nenhum aluno é encaminhado à salas de reforço ou aprende, a partir de currículos adaptados. O professor não predetermina a extensão e a profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos alunos, nem facilita as atividades para alguns, porque, de antemão já prevê q dificuldade que possam encontrar para realizá-las. Porque é o aluno que se adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de regular o seu processo de construção intelectual.
A avaliação constitui um outro entrave à implementação da inclusão. É urgente suprimir o caráter classificatório da avaliação escolar, através de notas, provas, pela visão diagnóstica desse processo que deverá ser contínuo e qualitativo, visando depurar o ensino e torná-lo cada vez mais adequado e eficiente à aprendizagem de todos os alunos. Essa medida já diminuiria substancialmente o número de alunos que são indevidamente avaliados e categorizados como deficientes, nas escolas regulares.
A aprendizagem como o centro das atividades escolares e o sucesso dos alunos, como a meta da escola, independentemente do nível de desempenho a que cada um seja capaz de chegar são condições de base para que se caminha na direção de escolas acolhedoras. O sentido desse acolhimento não é o da aceitação passiva das possibilidades de cada um, mas o de serem receptivas a todas as crianças, pois as escolas existem, para formar as novas gerações, e não apenas alguns de seus futuros membros, os mais privilegiados.
A inclusão não prevê a utilização de métodos e técnicas de ensino específicas para esta ou aquela deficiência. Os alunos aprendem até o limite em que conseguem chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o professor considera o nível de possibilidades de desenvolvimento de cada um e explora essas possibilidades, por meio de atividades abertas, nas quais cada aluno se enquadra por si mesmo, na medida de seus interesses e necessidades, seja para construir uma idéia, ou resolver um problema, realizar uma tarefa. Eis aí um grande desafio a ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais, cujo paradigma é condutista, e baseado na transmissão dos conhecimentos.
O trabalho coletivo e diversificado nas turmas e na escola como um todo é compatível com a vocação da escola de formar as gerações. É nos bancos escolares que aprendemos a viver entre os nossos pares, a dividir as responsabilidades, repartir as tarefas. O exercício dessas ações desenvolve a cooperação, o sentido de se trabalhar e produzir em grupo, o reconhecimento da diversidade dos talentos humanos e a valorização do trabalho de cada pessoa para a consecução de metas comuns de um mesmo grupo.
O tutoramento nas salas de aula tem sido uma solução natural, que pode ajudar muito os alunos, desenvolvendo neles o hábito de compartilhar o saber. O apoio ao colega com dificuldade é uma atitude extremamente útil e humana e que tem sido muito pouco desenvolvida nas escolas, sempre tão competitivas e despreocupadas com a a construção de valores e de atitudes morais.
Além dessas sugestões, referentes ao ensino nas escolas, a educação de qualidade para todos e a inclusão implicam em mudanças de outras condições relativas à administração e aos papéis desempenhados pelos membros da organização escolar.
Nesse sentido é primordial que sejam revistos os papéis desempenhados pelos diretores e coordenadores, no sentido de que ultrapassem o teor controlador, fiscalizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de apoio, orientação do professor e de toda a comunidade escolar.
A descentralização da gestão administrativa, por sua vez, promove uma maior autonomia pedagógica, administrativa e financeira de recursos materiais e humanos das escolas, por meio dos conselhos, colegiados, assembléias de pais e de alunos. Mudam-se os rumos da administração escolar e com isso o aspecto pedagógico das funções do diretor e dos coordenadores e supervisores emerge. Deixam de existir os motivos pelos quais que esses profissionais ficam confinados aos gabinetes, às questões burocráticas, sem tempo para conhecer e participar do que acontece nas salas de aula.
Visando a formação continuada dos professores
Sabemos que, no geral, os professores são bastante resistentes às inovações educacionais, como a inclusão. A tendência é se refugiarem no impossível, considerando que a proposta de uma educação para todos é válida, porém utópica, impossível de ser concretizada com muitos alunos e nas circunstâncias em que se trabalha, hoje, nas escolas, principalmente nas redes públicas de ensino.
A maioria dos professores têm uma visão funcional do ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de trabalho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de aula é rejeitado. Também reconhecemos que as inovações educacionais abalam a identidade profissional, e o lugar conquistado pelos professores em uma dada estrutura ou sistema de ensino, atentando contra a experiência, os conhecimentos e o esforço que fizeram para adquiri-los.
Os professores, como qualquer ser humano, tendem a adaptar uma situação nova às anteriores. E o que é habitual, no caso dos cursos de formação inicial e na educação continuada, é a separação entre teoria e prática. Essa visão dicotômica do ensino dificulta a nossa atuação, como formadores. Os professores reagem inicialmente à nossa metodologia, porque estão habituados a aprender de maneira incompleta, fragmentada e essencialmente instrucional. Eles esperam aprender uma prática inclusiva, ou melhor, uma formação que lhes permita aplicar esquemas de trabalho pré-definidos às suas salas de aulas, garantindo-lhes a solução dos problemas que presumem encontrar nas escolas inclusivas.
Em uma palavra, os professores acreditam que a formação em serviço lhes assegurará o preparo de que necessitam para se especializarem em todos os alunos, mas concebem essa formação como sendo mais um curso de extensão, de especialização com uma terminalidade e com um certificado que lhes convalida a capacidade de efetivar a inclusão escolar. Eles introjetaram o papel de praticantes e esperam que os formadores lhes ensinem o que é preciso fazer, para trabalhar com níveis diferentes de desempenho escolar, transmitindo-lhes os novos conhecimentos, conduzindo-lhes da mesma maneira como geralmente trabalham com seus próprios alunos. Acreditam que os conhecimentos que lhes faltam para ensinar as crianças com deficiência ou dificuldade de aprender por outras incontáveis causas referem-se primordialmente à conceituação, etiologia, prognósticos das deficiências e que precisam conhecer e saber aplicar métodos e técnicas específicas para a aprendizagem escolar desses alunos. Os dirigentes das redes de ensino e das escolas particulares também pretendem o mesmo, num primeiro momento, em que solicitam a nossa colaboração.
Se de um lado é preciso continuar investindo maciçamente na direção da formação de profissionais qualificados, não se pode descuidar da realização dessa formação e estar atento ao modo pelo qual os professores aprendem para se profissionalizar e para aperfeiçoar seus conhecimentos pedagógicos, assim como reagem às novidades, aos novos possíveis educacionais.
A metodologia
Diante dessas circunstâncias e para que possamos atingir nossos propósitos de formar professores para uma escola de qualidade para todos, idealizamos um projeto de formação que tem sido adotado por redes de ensino públicas e escolas particulares brasileiras, desde 1991.
Nossa proposta de formação se baseia em princípios educacionais construtivistas, pois reconhecemos que a cooperação, a autonomia intelectual e social, a aprendizagem ativa e a cooperação são condições que propiciam o desenvolvimento global de todos os alunos, assim como a capacitação e o aprimoramento profissional dos professores.
Nesse contexto, o professor é uma referência para o aluno e não apenas um mero instrutor, pois enfatizamos a importância de seu papel tanto na construção do conhecimento, como na formação de atitudes e valores do futuro cidadão. Assim sendo, a formação continuada vai além dos aspectos instrumentais de ensino.
A metodologia que adotamos reconhece que o professor, assim como o seu aluno, não aprendem no vazio. Assim sendo, partimos do "saber fazer" desses profissionais, que já possuem conhecimentos, experiências, crenças, esquemas de trabalho, ao entrar em contato com a inclusão ou qualquer outra inovação.
Em nossos projetos de aprimoramento e atualização do professor consideramos fundamental o exercício constante de reflexão e o compartilhamento de idéias, sentimentos, ações entre os professores, diretores, coordenadores da escola. Interessam-nos as experiências concretas, os problemas reais, as situações do dia-a-dia que desequilibram o trabalho, nas salas de aula. Eles são a matéria-prima das mudanças. O questionamento da própria prática, as comparações, a análise das circunstâncias e dos fatos que provocam perturbações e/ou respondem pelo sucesso vão definindo, pouco a pouco, aos professores as suas "teorias pedagógicas". Pretendemos que os professores sejam capazes de explicar o que outrora só sabiam reproduzir, a partir do que aprendiam em cursos, oficinas, palestras, exclusivamente. Incentivamos os professores para que interajam com seus colegas com regularidade, estudem juntos, com e sem o nosso apoio técnico e que estejam abertos para colaborar com seus pares, na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão.
O fato de os professores fundamentarem suas práticas e argumentos pedagógicos no senso comum dificulta a explicitação dos problemas de aprendizagem. Essa dificuldade pode mudar o rumo da trajetória escolar de alunos que muitas vezes são encaminhados indevidamente para as modalidades do ensino especial e outras opções segregativas de atendimento educacional.
Daí a necessidade de se formarem grupos de estudos nas escolas, para a discussão e a compreensão dos problemas educacionais, à luz do conhecimento científico e interdisciplinarmente, se possível. Os grupos são organizados espontaneamente pelos próprios professores, no horário em que estão nas escolas e são acompanhados, inicialmente, pela equipe da rede de ensino, encarregada da coordenação das ações de formação. As reuniões têm como ponto de partida, as necessidades e interesse comuns de alguns professores de esclarecer situações e de aperfeiçoar o modo como trabalham nas salas de aula. O foco dos estudos está na resolução dos problemas de aprendizagem, o que remete à análise de como o ensino está sendo ministrado, pois o processo de construção do conhecimento é interativo e os seus dois lados devem ser analisados, quando se quer esclarecê-lo.
Participam dos grupos, além dos professores, o diretor da escola, coordenadores, mas há grupos que se formam entre membros de diversas escolas, que estejam voltados para um mesmo tema de estudo, como por exemplo a indisciplina, a sexualidade, a ética e a violência, a avaliação e outros assuntos pertinentes.
A equipe responsável pela coordenação da formação é constituída por professores, coordenadores, que são da própria rede de ensino, e por parceiros de outras Secretarias afins: Saúde, Esportes, Cultura. Nós trabalhamos diretamente com esses profissionais, mas também participamos do trabalho nas escolas, acompanhando-as esporadicamente, quando somos solicitados - minha equipe de alunos e eu.
Os Centros de Desenvolvimento do Professor
Algumas redes de ensino criaram o que chamamos de Centros de Desenvolvimento do Professor, os quais representam um avanço nessa nova direção de formação continuada, que estamos propondo, pois sediam a maioria das ações de aprimoramento da rede, promovendo eventos de pequeno, médio e grande porte, como workshops, seminários, entrevistas, com especialistas, fóruns e outras atividades. Sejam atendendo individualmente, como em pequenos e grandes grupos os professores, pais, comunidade. Os referidos Centros também se dedicam ao encaminhamento e atendimento de alunos que necessitam de tratamento clínico, em áreas que não sejam a escolar, propriamente dita.
Temos estimulado em todas as redes em que atuamos a criação dos centros, pois ao nosso ver, eles resumem o que pretendemos, quando nos referimos à formação continuada - um local em que o professor e toda comunidade escolar vem para realimentar o conhecimento pedagógico, além de servir igualmente aos alunos e a todos os interessados pela educação, no município.
Ao nosso ver, os cursos e demais atividades de formação em serviço, habitualmente oferecidos aos professores não estão obtendo o retorno que o investimento propõe. Temos insistido na criação desses Centros, porque a existência de seus serviços redireciona o que já é usual nas redes de ensino, ou seja, o apoio ao professor, pelos itinerantes. Não concordamos com esse suporte a alunos e professores com dificuldades, porque "apagam incêndio", agem sobre os sintomas, oferecem soluções particularizadas, locais, mas não vão à fundo no problema e suas causas. Os serviços itinerantes de apoio não solicitam o professor, no sentido de que se mobilize, de que reveja sua prática. Sua existência não obriga o professor a assumir a responsabilidade pela aprendizagem de todos os alunos, pois já existe um especialista para atender aos caso mais difíceis, que são os que justamente fazem o professor evoluir, na maneira de proceder com a turma toda. Porque se um aluno não vai bem, seja ele uma pessoa com ou sem deficiência, o problema precisa ser analisado não apenas com relação às reações dessa ou de outra criança, mas ao grupo como um todo, ao ensino que está sendo ministrado, para que os alunos possam aprender, naquele grupo.
A itinerância não faz evoluir as práticas, o conhecimento pedagógico dos professores. Ë, na nossa opinião, mais uma modalidade da educação especial que acomoda o professor do ensino regular, tirando-lhe a oportunidade de crescer, de sentir a necessidade de buscar soluções e não aguardar que alguém de fora venha, regularmente, para resolver seus problemas. Esse serviço igualmente reforça a idéia de que os problemas de aprendizagem são sempre do aluno e que ó o especialista poderá se incumbir de removê-los, com adequação e eficiência.
O tipo de formação que estamos implementando para tornar possível a inclusão implica no estabelecimento de parcerias entre professores, alunos, escolas, profissionais de outras áreas afins, Universidades, para que possa se manter ativa e capaz de fazer frente às inúmeras solicitações que essa modalidade de trabalho provoca nos interessados. Por outro lado, essas parcerias ensejam o desenvolvimento de outras ações, entre as quais a investigação educacional e em outros ramos do conhecimento. São nessas redes e a partir dessa formação que estamos pesquisando e orientando trabalhos de nossos alunos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação / Unicamp e onde estamos observando os efeitos desse trabalho, nas redes.
Não dispensamos os cursos, oficinas e outros eventos de atualização e de aperfeiçoamento, quando estes são reinvindicados pelo professor e nesse sentido a parceria com outros grupos de pesquisa da Unicamp e colegas de outras Universidades têm sido muito eficiente. Mas há cursos que oferecemos aos professores, que são ministrados por seus colegas da própria rede, quando estes se dispõe a oferecê-los ou são convidados por nós, ao conhecermos o valor de sua contribuição para os demais.
As escolas e professores com os quais estamos trabalhando já apresentam sintomas pelos quais podemos perceber que estão evoluindo dia -a- dia para uma Educação de qualidade para Todos. Esses sintomas podem ser resumidos no que segue:
• reconhecimento e valorização da diversidade, como elemento enriquecedor do processo de ensino e aprendizagem;
• professores conscientes do modo como atuam, para promover a aprendizagem de todos os alunos;
• cooperação entre os implicados no processo educativo - dentro e fora da escola;
• valorização do processo sobre o produto da aprendizagem;
• enfoques curriculares, metodológicos e estratégias pedagógicas que possibilita, a construção coletiva do conhecimento.
É preciso, contudo, considerar que a avaliação dos efeitos de nossos projetos não se centram no aproveitamento de alguns alunos, os deficientes, nas classes regulares. Embora estes casos sejam objeto de nossa atenção, queremos acima de tudo saber se os professores evoluíram na sua maneira de fazer acontecer a aprendizagem nas suas salas de aula; se as escolas se transformaram, se as crianças estão sendo respeitadas nas suas possibilidades de avançar, autonomamente, na construção dos conhecimentos acadêmicos; se estes estão sendo construídos no coletivo escolar, em clima de solidariedade; se a as relações entre as crianças, pais, professores e toda a comunidade escolar se estreitaram, nos laços da cooperação, do diálogo, fruto de um exercício diário de compartilhamento de seus deveres, problemas, sucessos.
Outras alternativas de formação
Para ampliar essas parcerias estamos utilizando também as redes de comunicação à distância para intercâmbios de experiências entre alunos e profissionais da educação, pais e comunidade. Embora ainda incipiente, o Caleidoscópio - Um Projeto de Educação Para Todos é o nosso site na Internet e por meio deste hipertexto estamos trabalhando no sentido de provocar a interatividade presencial e virtual entre as escolas, como mais uma alternativa de formação continuada, que envolve os alunos, as escolas e a rede como um todo. O Caleidoscópio tem sido objeto de estudos de nossos alunos e de outras unidades da Unicamp, relacionadas à ciência da computação e está crescendo como proposta e abrindo canais de participação com a comunidade e com outras instituições que se propõe a participar do movimento inclusivo, dentro e fora das escolas.
Se pretendemos mudanças nas práticas de sala de aula, não podemos continuar formando e aperfeiçoando os professores como se as inovações só se referissem à aprendizagem dos alunos da educação infantil, da escola fundamental e do ensino médio...
AS PERSPECTIVAS
A escola para a maioria das crianças brasileiras é o único espaço de acesso aos conhecimentos universais e sistematizados, ou seja, é o lugar que vai lhes proporcionar condições de se desenvolver e de se tornar um cidadão , alguém com identidade social e cultural
Melhorar as condições da escola é formar gerações mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livremente, sem preconceitos, sem barreiras. Não podemos nos contradizer nem mesmo contemporizar soluções, mesmo que o preço que tenhamos de pagar seja bem alto, pois nunca será tão alto quanto o resgate de uma vida escolar marginalizada, uma evasão, uma criança estigmatizada, sem motivos.
A escola prepara o futuro e de certo que se as crianças conviverem e aprenderem a valorizar a diversidade nas suas salas de aula, serão adultos bem diferentes de nós, que temos de nos empenhar tanto para defender o indefensável.
A inclusão escolar remete a escola a questões de estrutura e de funcionamento que subvertem seus paradigmas e que implicam em um redimensionamento de seu papel, para um mundo que evolui a "bytes".
O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e qualquer mudança, especialmente no meio educacional, é irreversível e convence a todos pela sua lógica, pela ética de seu posicionamento social.
A inclusão está denunciando o abismo existente entre o velho e o novo na instituição escolar brasileira. A inclusão é reveladora dessa distância que precisa ser preenchida com as ações que relacionamos anteriormente.
Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, ao nosso ver, dependendo de uma expansão rápida dos projetos verdadeiramente embuídos do compromisso de transformar a escola, para se adequar aos novos tempos.
Se hoje ainda são experiências locais, as que estão demonstrando a viabilidade da inclusão, em escolas e redes de ensino brasileiras, estas experiências têm a força do óbvio e a clareza da simplicidade e só essas virtudes são suficientes para se antever o crescimento desse novo paradigma no sistema educacional.
Não se muda a escola com um passe de mágica.
A implementação da escola de qualidade, que é igualitária, justa e acolhedora para todos, é um sonho possível.
A aparente fragilidade das pequenas iniciativas, ou seja, essas experiências locais que têm sido suficientes para enfrentar o poder da máquina educacional, velha e enferrujada, com segurança e tranquilidade. Essas iniciativas têm mostrado a viabilidade da inclusão escolar nas escolas brasileiras.
As perspectivas do ensino inclusivo são, pois, animadoras e alentadoras para a nossa educação. A escola é do povo, de todas as crianças, de suas famílias, das comunidade, em que se inserem.
Crianças, bem-vindas à uma nova escola !
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Integração x Inclusão: Escola (de qualidade) para Todos
Maria Teresa Eglér Mantoan
Universidade Estadual de Campinas - Faculdade de Educação
Departamento de Metodologia de Ensino
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade - LEPED/UNICAMP
Sabemos que a situação atual do atendimento às necessidades escolares da criança brasileira é responsável pelos índices assustadores de repetência e evasão no ensino fundamental. Entretanto, no imaginário social, como na cultura escolar, a incompetência de certos alunos - os pobres e os deficientes - para enfrentar as exigências da escolaridade regular é uma crença que aparece na simplicidade das afirmações do senso comum e até mesmo em certos argumentos e interpretações teóricas sobre o tema.
Por outro lado, já se conhece o efeito solicitador do meio escolar regular no desenvolvimento de pessoas com deficiências (Mantoan:1988) e é mesmo um lugar comum afirmar-se que é preciso respeitar os educandos em sua individualidade, para não se condenar uma parte deles ao fracasso e às categorias especiais de ensino. Ainda assim, é ousado para muitos, ou melhor, para a maioria das pessoas, a idéia de que nós, os humanos, somos seres únicos, singulares e que é injusto e inadequado sermos categorizados, a qualquer pretexto!
Todavia, apesar desses e de outros contra-sensos, sabemos que é normal a presença de déficits em nossos comportamentos e em áreas de nossa atuação, pessoal ou grupal, assim como em um ou outro aspecto de nosso desenvolvimento físico, social, cultural, por sermos seres perfectíveis, que constróem, pouco a pouco e, na medida do possível, suas condições de adaptação ao meio. A diversidade no meio social e, especialmente no ambiente escolar, é fator determinante do enriquecimento das trocas, dos intercâmbios intelectuais, sociais e culturais que possam ocorrer entre os sujeitos que neles interagem.
Acreditamos que o aprimoramento da qualidade do ensino regular e a adição de princípios educacionais válidos para todos os alunos, resultarão naturalmente na inclusão escolar dos deficientes. Em consequência, a educação especial adquirirá uma nova significação. Tornar-se-á uma modalidade de ensino destinada não apenas a um grupo exclusivo de alunos, o dos deficientes, mas especializada no aluno e dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento de novas maneiras de se ensinar, adequadas à heterogeneidade dos aprendizes e compatível com os ideais democráticos de uma educação para todos.
Nessa perspectiva, os desafios que temos a enfrentar são inúmeros e toda e qualquer investida no sentido de se ministrar um ensino especializado no aluno depende de se ultrapassar as condições atuais de estruturação do ensino escolar para deficientes. Em outras palavras, depende da fusão do ensino regular com o especial.
Ora, fusão não é junção, justaposição, agregação de uma modalidade à outra. Fundir significa incorporar elementos distintos para se criar uma nova estrutura, na qual desaparecem os elementos iniciais, tal qual eles são originariamente. Assim sendo, instalar uma classe especial em uma escola regular nada mais é do que uma justaposição de recursos, assim como o são outros, que se dispõem do mesmo modo.
Outros obstáculos à consecução de um ensino especializado no aluno, implicam a adequação de novos conhecimentos oriundos das investigações atuais em educação e de outras ciências às salas de aula, às intervenções tipicamente escolares, que têm uma vocação institucional específica de sistematizar os conhecimentos acadêmicos, as disciplinas curriculares. De fato, nem sempre os estudos e as comprovações científicas são diretamente aplicáveis à realidade escolar e as implicações pedagógicas que podemos retirar de um novo conhecimento também precisam de ser testadas, para confirmar sua eficácia no domínio do ensino escolar.
O paradigma vigente de atendimento especializado e segregativo é extremamente forte e enraizado no ideário das instituições e na prática dos profissionais que atuam no ensino especial. A indiferenciação entre os significados específicos dos processos de integração e inclusão escolar reforça ainda mais a vigência do paradigma tradicional de serviços e muitos continuam a mantê-lo, embora estejam defendendo a integração!
Ocorre que os dois vocábulos - integração e inclusão - conquanto tenham significados semelhantes, estão sendo empregados para expressar situações de inserção diferentes e têm por detrás posicionamentos divergentes para a consecução de suas metas. A noção de integração tem sido compreendida de diversas maneiras, quando aplicada à escola. Os diversos significados que lhe são atribuídos devem-se ao uso do termo para expressar fins diferentes, sejam eles pedagógicos, sociais, filosóficos e outros. O emprego do vocábulo é encontrado até mesmo para designar alunos agrupados em escolas especiais para deficientes, ou mesmo em classes especiais, grupos de lazer, residências para deficientes. Por tratar-se de um constructo histórico recente, que data dos anos 60, a integração sofreu a influência dos movimentos que caracterizaram e reconsideraram outras idéias, como as de escola, sociedade, educação. O número crescente de estudos referentes à integração escolar e o emprego generalizado do termo têm levado a muita confusão a respeito das idéias que cada caso encerra.
Os movimentos em favor da integração de crianças com deficiência surgiram nos países nórdicos (Nirje, 1969), quando se questionaram as práticas sociais e escolares de segregação, assim como as atitudes sociais em relação às pessoas com deficiência intelectual.
A noção de base em matéria de integração é o princípio de normalização, que não sendo específico da vida escolar, atinge o conjunto de manifestações e atividades humanas e todas as etapas da vida das pessoas, sejam elas afetadas ou não por uma incapacidade, dificuldade ou inadaptação. A normalização visa tornar accessível às pessoas socialmente desvalorizadas condições e modelos de vida análogos aos que são disponíveis de um modo geral ao conjunto de pessoas de um dado meio ou sociedade; implica a adoção de um novo paradigma de entendimento das relações entre as pessoas fazendo-se acompanhar de medidas que objetivam a eliminação de toda e qualquer forma de rotulação.
Modalidades de inserção
Uma das opções de integração escolar denomina-se mainstreaming, ou seja, "corrente principal" e seu sentido é análogo a um canal educativo geral, que em seu fluxo vai carregando todo tipo de aluno com ou sem capacidade ou necessidade específica. O aluno com deficiência mental ou com dificuldades de aprendizagem, pelo conceito referido, deve ter acesso à educação, sua formação sendo adaptada às suas necessidades específicas. Existe um leque de possibilidades e de serviços disponíveis aos alunos, que vai da inserção nas classes regulares ao ensino em escolas especiais. Este processo de integração se traduz por uma estrutura intitulada sistema de cascata, que deve favorecer o "ambiente o menos restritivo possível", dando oportunidade ao aluno, em todas as etapas da integração, transitar no "sistema", da classe regular ao ensino especial. Trata-se de uma concepção de integração parcial, porque a cascata prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos objetivos da normalização.
De fato, os alunos que se encontram em serviços segregados muito raramente se deslocam para os menos segregados e, raramente, às classes regulares. A crítica mais forte ao sistema de cascata e às políticas de integração do tipo mainstreaming afirma que a escola oculta seu fracasso, isolando os alunos e só integrando os que não constituem um desafio à sua competência (Doré et alii.,1996). Nas situações de mainstreaming nem todos os alunos cabem e os elegíveis para a integração são os que foram avaliados por instrumentos e profissionais supostamente objetivos. O sistema se baseia na individualização dos programas instrucionais, os quais devem se adaptar às necessidades de cada um dos alunos, com deficiência ou não.
A outra opção de inserção é a inclusão, que questiona não somente as políticas e a organização da educação especial e regular, mas também o conceito de integração - mainstreaming. A noção de inclusão não é incompatível com a de integração, porém institue a inserção de uma forma mais radical, completa e sistemática. O conceito se refere à vida social e educativa e todos os alunos devem ser incluídos nas escolas regulares e não somente colocados na "corrente principal". O vocábulo integração é abandonado, uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou um grupo de alunos que já foram anteriormente excluídos; a meta primordial da inclusão é a de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo. As escolas inclusivas propõem um modo de se constituir o sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades. A inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apoia a todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. O impacto desta concepção é considerável, porque ela supõe a abolição completa dos serviços segregados (Doré et alii. 1996). A metáfora da inclusão é a do caleidoscópio. Esta imagem foi muito bem descrita no que segue: "O caleidoscópio precisa de todos os pedaços que o compõem. Quando se retira pedaços dele, o desenho se torna menos complexo, menos rico. As crianças se desenvolvem, aprendem e evoluem melhor em um ambiente rico e variado" (Forest et Lusthaus, 1987 : 6).
A inclusão propiciou a criação de inúmeras outras maneiras de se realizar a educação de alunos com deficiência mental nos sistemas de ensino regular, como as "escolas heterogêneas" (Falvey et alii., 1989), as "escolas acolhedoras" (Purkey et Novak, 1984), os "currículos centrados na comunidade" (Peterson et alii.,1992).
Resumindo, a integração escolar, cuja metáfora é o sistema de cascata, é uma forma condicional de inserção em que vai depender do aluno, ou seja, do nível de sua capacidade de adaptação às opções do sistema escolar, a sua integração, seja em uma sala regular, uma classe especial, ou mesmo em instituições especializadas. Trata-se de uma alternativa em que tudo se mantém, nada se questiona do esquema em vigor. Já a inclusão institui a inserção de uma forma mais radical, completa e sistemática, uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou grupo de alunos que não foram anteriormente excluídos. A meta da inclusão é, desde o início não deixar ninguém fora do sistema escolar, que terá de se adaptar às particularidades de todos os alunos para concretizar a sua metáfora - o caleidoscópio.
Considerações finais
De certo que a inclusão se concilia com uma educação para todos e com um ensino especializado no aluno, mas não se consegue implantar uma opção de inserção tão revolucionária sem enfrentar um desafio ainda maior : o que recai sobre o fator humano. Os recursos físicos e os meios materiais para a efetivação de um processo escolar de qualidade cedem sua prioridade ao desenvolvimento de novas atitudes e formas de interação, na escola, exigindo mudanças no relacionamento pessoal e social e na maneira de se efetivar os processos de ensino e aprendizagem. Nesse contexto, a formação do pessoal envolvido com a educação é de fundamental importância, assim como a assistência às famílias, enfim, uma sustentação aos que estarão diretamente implicados com as mudanças é condição necessária para que estas não sejam impostas, mas imponham-se como resultado de uma consciência cada vez mais evoluída de educação e de desenvolvimento humano.
Referências bibliográficas
BROWN,L. et alii (1983). Enseigner aux élèves gravement handicapés à accomplir des tâches essentielles em millieu de travail hétérogène.Wisconsin: University of Wisconsin e Madison Metropolitan School District.
DORÉ,R., WAGNER,S.,BRUNET,J.P. (1996). Conditions d'intégration à l'école secondaire - Déficience intellectuelle (título provisório). Em preparação.
FALVEY, M.A. e HANEY, M.Partnerships with parents and significant others. Em: Falvey, M.A. Community-basa curriculum. Instructional strategies for students with severe handicaps. Baltimore, MD: Paul H. Brookes Publishing Co. 15-34.
FERGUSSON,D.L. et alii (1992). Figuring out what to do with grownups:how teachers make inclusion "work"for students with disabilities. Em: The Journal of the Association for Persons With Severe Disabilities (JASH), 17 (4), 218-226.
FOREST,M. et LUSTHAUS,E. (1987). Le kaleidoscope: un défi au concept de la classification en cascade. Em:Forest,M.(organizadora) Education-Intégration. Downsview, Ontario: L'Institut A.Roeher. Vol. II.1-16.
MANTOAN,M.T.E. (1988). Compreendendo a deficiência mental: novos caminhos educacionais. São Paulo: Editora Scipione.
NIRJE,B. (1969). The normalization principle and its human management implications. Em: Kugel,R. et Wolfensberger,W. Changing patterns in residential services for the mentally retarded. Washington, Dc: President's Committee on Mental Retardation.
PURKEY,W.W. et NOVAK,J.M. (1984). Inviting school success. A self-concept approach to teaching and learning. Belmont: Wadsworth.
SAINT-LAURENT,L. (1994). L'éducation intégrée à la communauté en déficience intellectuelle. Montréal, Québec: Les Editions Logiques Inc.
possível construir uma mentalidade inclusiva?
François Xavier-Berthou, Priscila Alves Vasconcelos,
Priscila Augusta Lima e Renata Maria Lima Novaes *
A sociedade brasileira vivencia um processo reivindicado há muitas décadas. Trata-se da inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas comuns da rede regular de ensino. Este foi o tema do 1 o Ciclo de Debates Educação e Necessidades Educacionais Especiais , promovido pelo Grupo de Estudos de Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais (Geine/Fae), realizado em novembro de 2004 na Faculdade de Educação. O evento contou com a participação de professores da UFMG e de outras instituições, estudantes, profissionais e pessoas da comunidade em geral. O segundo ciclo será realizado em junho de 2005, como atividade de disciplina do curso de Pedagogia.
Ao refletir sobre os debates, os participantes do Geine observaram que nessas ocasiões afloram diferentes concepções do processo de inclusão. Os depoimentos mostraram que muitas escolas comuns têm alunos com deficiências nas salas de aula. Há alunos cegos freqüentando escolas municipais e estudantes com Síndrome de Down nas estaduais. Mesmo diante deste fato, alguns especialistas da educação afirmam: “Isto não é inclusão!” E muitos profissionais da educação rebatem: “Estamos fazendo inclusão!”. Em algumas reuniões do Geine, as professoras nos questionam diante da chegada de um aluno especial: “Estamos agindo certo? Estamos fazendo inclusão?”.
Pesquisadores que atuam em diversos países definem a inclusão como uma transformação na escola, uma reestruturação para atender a todo tipo de aluno: pessoas com deficiências físicas, mentais, sensoriais ou múltiplas e com qualquer grau de severidade dessas deficiências; homens e mulheres sem deficiências ou com características atípicas. Tendo como referência o princípio da igualdade de direitos e reconhecendo toda a diversidade existente entre os seres humanos, esses estudiosos reafirmam a educação como um bem comum e um direito de todos.
Compreendemos que as questões formuladas mostram o interesse destas escolas e professores em contribuírem para o processo de inclusão. Embora retratem uma situação que não é a ideal, tais questões revelam a reflexão dos professores e a sua compreensão de que todos são sujeitos, com direitos fundamentais e, dentre esses direitos, está a Educação. Apesar de estarmos diante de um processo novo, somos informados e observamos que muitos alunos com necessidades especiais estão se afirmando em espaços escolares e melhorando sua auto-estima. A chegada desses alunos à escola é necessária para que os professores se mobilizem e para que a inclusão possa se consolidar.
Encontramos, no início do século 21, pessoas com deficiências nos mais diversos ambientes de trabalho, nos supermercados e s hoppings. A inclusão está em curso, mas ainda se faz exclusão. Há um movimento para incluir e também obstáculos a esse processo. Por um lado, sabemos ser impossível à escola e, mesmo aos sistemas de ensino, predizer todas as possibilidades educacionais necessárias com a incorporação de todos os alunos à escola comum. Por outro, este fato não pode impedir o acesso à informação necessária para que, diante de cada aluno, o professor consiga orientar sua proposta educativa. Um acontecimento a ser considerado é que, na busca de qualificação despertada pela chegada de um aluno, o professor geralmente torna-se mais sensível às particularidades apresentadas por outros estudantes. Porém, a entrada de uma criança com deficiência também pode levar o professor a diversos conflitos. Ao, por exemplo, sentir-se despreparado para receber este novo aluno, ele pode não estimulá-lo a concretizar suas potencialidades. Assim, o estudante permanece naquele espaço físico, mas não estabelece uma interação favorável ao seu desenvolvimento.
Já em relação à formação do professor constatamos que muitas universidades ainda não efetivaram as ações previstas em lei para que os futuros docentes tenham a habilitação necessária. A ausência de espaços de diálogo promove o desconhecimento do tema e, com ele, receio, medo e preconceito. Por isso, na maioria das vezes, somente ao receber o estudante com necessidades especiais é que o professor busca qualificação adequada e informações sobre as necessidades educacionais do aluno e as possibilidades de intervenção pedagógica.
São de grande importância as medidas legais implementadas em favor da inclusão, como as alterações na materialidade escolar e a qualificação profissional. Mas a inclusão é um processo que, para além de tudo isso, passa pelas “mãos” de pessoas, em especial dos professores, que também são responsáveis pelo estímulo ao processo inclusivo. A ação dos mestres deve permitir que alunos com necessidades especiais tenham _ como os demais têm, ou deveriam ter _ condições de realizar suas potencialidades intelectuais ou de socialização.
A consciência da capacidade dos alunos pode ocorrer por meio da informação _ e isto não implica ausência de sensibilidade. Compreendemos que o preceito legal da inclusão deve ser cumprido e que isto está acima de qualquer discussão. Compreendemos também, a partir de nossas práticas cotidianas com pais, alunos, professores e pesquisadores, que, além de possibilitar o acesso à informação, é necessário estimular a sensibilidade do educador _ a sua faculdade de sentir, de experimentar sentimentos como ternura e simpatia. Para se efetivar, a construção de uma mentalidade inclusiva depende desta acolhida, que certamente não fica restrita à escola.
* Integrantes do Grupo de Estudos de Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais (Geine) da FaE
A ação psicopedagógica e a transformação da realidade escolar
A ação psicopedagógica e a transformação da realidade escolar
A atuação do Psicopedagogo na instituição visa a fortalecer-lhe a identidade, bem como buscar o resgate das raízes dessa instituição, ao mesmo tempo em que procura sintonizá-la com a realidade que está sendo vivenciada no momento histórico atual, buscando adequar essa escola às reais demandas da sociedade.
Durante todo o processo educativo, procura investir numa concepção de ensino-aprendizagem que:
Fomente interações interpessoais;
Incentive os sujeitos da ação educativa a atuarem considerando integradamente as bagagens intelectual e moral;
Estimule a postura transformadora de toda a comunidade educativa para, de fato, inovar a prática escolar; contextualizando-a;
Enfatize o essencial: conceitos e conteúdos estruturantes, com significado relevante, de acordo com a demanda em questão;
Oriente e interaja com o corpo docente no sentido de desenvolver mais o raciocínio do aluno, ajudando-o a aprender a pensar e a estabelecer relações entre os diversos conteúdos trabalhados;
Reforce a parceria entre escola e família;
Lance as bases para a orientação do aluno na construção de seu projeto de vida, com clareza de raciocínio e equilíbrio;
Incentive a implementação de projetos que estimulem a autonomia de professores e alunos;
Atue junto ao corpo docente para que se conscientize de sua posição de “eterno aprendiz”, de sua importância e envolvimento no processo de aprendizagem, com ênfase na avaliação do aluno, evitando mecanismos menores de seleção, que dirigem apenas ao vestibular e não à vida.
Nesse sentido, o material didático adotado, após criteriosa análise, deve ser utilizado como orientador do trabalho do professor e nunca como o único recurso de sua atuação docente.
Com certeza, se almejamos contribuir para a evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade, nossos alunos precisam ser capazes de olhar esse mundo real em que vivemos, interpretá-lo, decifrá-lo e nele ter condições de interferir com segurança e competência.
Para tanto, juntamente com toda a Equipe Escolar, o Psicopedagogo estará mobilizado na construção de um espaço concreto de ensino- aprendizagem, espaço este orientado pela visão de processo, através do qual todos os participantes se articulam e mobilizam na identificação dos pontos principais a serem intensificados e hierarquizados, para que não haja ruptura da ação, e sim continuidade crítica que impulsione a todos em direção ao saber que definem e lutam por alcançar.
Considerando a escola responsável por parcela significativa da formação do ser humano, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar, que podemos chamar de psicopedagogia preventiva, cumpre a importante função de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de normas de conduta inseridas num mais amplo projeto social, procurando afastar, contrabalançar a necessidade de repressão. Assim, a escola, como mediadora no processo de socialização, vem a ser produto da sociedade em que o indivíduo vive e participa. Nela, o professor não apenas ensina, mas também aprende. Aprende conteúdos, aprende a ensinar, a dialogar e liderar; aprende a ser cada vez mais um cidadão do mundo, coerente com sua época e seu papel de ensinante, que é também aprendente. Agindo assim, a maioria das questões poderão ser tratadas de forma preventiva, antes que se tornem verdadeiros problemas.
Em sua obra “A Psicopedagogia no Brasil- Contribuições a Partir da Prática”, Nádia Bossa registra o termo prevenção como referente à atitude do profissional no sentido de adequar as condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos nesse processo, Partindo da criteriosa análise dos fatores que podem promover, como dos que têm possibilidade de comprometer o processo de aprendizagem, a Psicopedagogia Institucional elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal processo, o que vem a ser sua função precípua, colaborando, assim, na preparação das gerações para viver plenamente a complexidade característica da época. Sabemos que o aluno de hoje deseja que sua escola reflita a sua realidade e o prepare para enfrentar os desafios que a vida social apresenta, portanto não aceita ser educado com padrões já obsoletos e ultrapassados.
“A psicopedagogia trabalha e estuda a aprendizagem, o sujeito que aprende, aquilo que ele está apontando como a escola em seu conteúdo sociocultural. É uma área das Ciências Humanas que se dedica ao estudo dos processos de aprendizagem. Podemos hoje afirmar que a Psicopedagogia é um espaço transdisciplinar, pois se constitui a partir de uma nova compreensão acerca da complexidade dos processos de aprendizagem e, dentro desta perspectiva, das suas deficiências.”(Nívea M. C. Fabrício).
Surgiu da necessidade de melhor compreensão do processo de aprendizagem, comprometida com a transformação da realidade escolar, na medida em que possibilita, mediante exercício, análise e ação reflexivas, superar os obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do mundo e atuação coerente com a evolução e progresso da humanidade, colaborando, assim, para transformar a escola extemporânea, que não está conseguindo acompanhar o aluno que chega a ela, em escola contemporânea, capaz de lidar com os padrões que os alunos trazem e de se contrapor à cultura de massas predominante, dialogando com essa cultura.
Educação e Psicologia, como também Psicanálise, Lingüística e Filosofia, dentre outras, se unem para participar na solução de problemas que possam surgir no contexto educativo; todas passam a levar em conta esse contexto, os fins da educação e a problemática dos meios para realizá-la, elevando o aluno à categoria de sujeito do conhecimento, envolvendo na solução as estratégias pedagógicas adequadas, considerando liderança, diálogo, visão, pensamento e ação como pilares de sustentação de uma organização dinâmica, situada, responsável e humana ( Isabel Alarcão).
Há necessidade de, não apenas conhecer a ação, mas orientá-la, integrando o trabalho de acompanhamento de procedimentos didáticos à resolução de problemas de adaptação escolar, que podem ser caracterizados como aqueles que emergem da relação, da interação entre as pessoas e entre elas e o meio, surgindo em função de desarmonias entre o sujeito e as circunstâncias do ambiente. Essas desarmonias podem até adotar modalidades patogênicas ou patológicas, que requerem encaminhamentos específicos que podem extrapolar o espaço escolar.
REFLETINDO SOBRE A PRÁXIS
Visando favorecer a apropriação do conhecimento pelo ser humano, ao longo de sua evolução, a ação psicopedagógica consiste numa leitura e releitura do processo de aprendizagem, bem como da aplicabilidade de conceitos teóricos que lhe dêem novos contornos e significados, gerando práticas mais consistentes, que respeitem a singularidade de cada um e consigam lidar com resistências. A ação desse profissional jamais pode ser isolada, mas integrada à ação da equipe escolar, buscando, em conjunto, vivenciar a escola, não só como espaço de aprendizagem de conteúdos educacionais, mas de convívio, de cultura, de valores, de pesquisa e experimentação, que possibilitem a flexibilização de atividades docentes e discentes.
Utilizando a situação específica de incorporação de novas dinâmicas em sala de aula, contemplando a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da escola, o psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de produção do conhecimento.
A prática psicopedagógica tem contribuído para a flexibilização da atuação docente na medida em que coloca questões que estimulam a reflexão e a confrontação com temáticas ainda insuficientemente discutidas, de manejo delicado, que, na maioria das vezes, podem produzir conflito. Isto se deve, em geral, ao quadro de comprometimento do aluno/instituição, que apresenta dificuldades múltiplas, envolvendo as competências cognitivas, emocionais, atitudinais, relacionais e comunicativas almejadas e necessárias à sociedade. Em decorrência, ações específicas, integradas e complementares de diferentes profissionais devem compor um projeto de escola coerente e impulsionador de valores e relações humanas vividos no ambiente escolar. Projeto que envolva o recurso humano: professores, alunos, comunidade para, através dele, transformar não só a cultura que se vive na escola, mas na sociedade.
Psicopedagogia no Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade
A atuação da Psicopedagoga junto à crianças e adolescentes com Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (DDA ou TDAH).
A Psicopedagogia é uma especialidade multidisciplinar que integra diversos conhecimentos nas áreas que envolvem a aprendizagem, como a Psicologia, Pedagogia, Neurologia, Fonoaudiologia, entre outras.
O acompanhamento Psicopedagógico tem como objetivo abordar o processo da aprendizagem, como esse se desenvolve e de que forma o indivíduo se relaciona com o aprender; nos aspectos cognitivos, emocionais e sociais.Quando são identificadas dificuldades neste processo, a Psicopedagogia busca as suas origens, os possíveis distúrbios; as habilidades e as limitações do ser que aprende.
A intervenção Psicopedagógica pode ser terapêutica, preventiva e de inclusão escolar.
A Avaliação Psicopedagógica é iniciada a partir da primeira entrevista com os pais, quando é conhecido o motivo da consulta, o desenvolvimento da criança e o histórico familiar.
As sessões são realizadas individualmente com a criança ou adolescente. Diante das necessidades são realizados testes e atividades específicas para avaliar o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e emocional da criança. As atividades são voltadas para área da escrita, leitura, raciocínio matemático, motricidade, desenho e o lúdico (jogos com regras), assim como a análise do material escolar.
Diante da avaliação, o acompanhamento poderá ser de uma ou duas vezes por semana.
A avaliação Psicopedagógica tem um papel importante no diagnóstico de uma criança ou adolescente com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade). Elas apresentam dificuldades para manter a sua atenção de forma continuada enquanto realizam uma atividade, mesmo quando há interesse, se dispersam facilmente e desviam sua atenção para um outro estímulo. Quando há hiperatividade, o indivíduo parece incansável, mexe-se constantemente, mais do que necessário quando executa uma atividade; mesmo sentado, parece impaciente, manuseia objetos, balança pernas... Nota-se também, uma certa ansiedade para falar, costuma interromper conversas, brincadeiras e fala sem parar.
Os problemas de atenção, concentração, organização, hiperatividade, e impulsividade afetam o rendimento escolar e, conseqüentemente, a auto-estima da criança. Um diagnóstico realizado o quanto antes, pode evitar sintomas que são associados a este transtorno. O acompanhamento visa criar condições para que o paciente retenha a sua atenção e concentração durante suas atividades, assim como estímulo para organizar-se. No lúdico, observa-se limites, interação com o meio, raciocínio matemático entre outros.
Quando os pais chegam até a clínica Psicopedagógica, geralmente trazem no histórico da criança vários professores particulares, mudanças de escola, dificuldades de relacionamento e inclusive, um desgaste familiar.
Relatos comuns trazidos por pais e educadores de crianças e adolescentes com Déficit de Atenção e Hiperatividade;
• "Parece que está sempre no mundo da lua"
• "Não se importa com os seus resultados"
• "Não tenta mudar"
• "Não sei mais o que fazer"
• "Larga tudo, é muito desorganizado e não cumpre com suas obrigações"
• "Sei que ele é inteligente e consegue fazer as coisas, mas não faz"
Nas queixas as crianças são vistas como agitadas, desorganizadas, perdem objetos, materiais escolares, esquecem compromissos, têm dificuldades para concluir atividades que iniciam e em algumas situações, mostram-se inconvenientes diante do grupo em que se encontram. Mas ao mesmo tempo, são crianças "antenadas", inteligentes e muito afetuosas.
O trabalho Psicopedagógico também é realizado junto aos pais e à escola.
O suporte dirigido à família é recomendado, pois pode haver um desgaste entre os membros. O problema deve ser visto como familiar e não apenas de um indivíduo. A Psicopedagoga orientará o comportamento e atitudes da família que colaborarão com o tratamento da criança ou do adolescente com TDAH. É importante que haja equilíbrio na postura dos pais diante dos limites, regras e reconhecimento dos aspectos positivos que a criança apresenta. O auxílio nas atividades, na organização dos afazeres e pertences também contribuem para que a criança sinta segurança e confiança perante a família.
Quanto à escola, a Psicopedagoga atua junto aos coordenadores e professores com o objetivo de levantar dados na rotina escolar do aluno, como seu rendimento nas disciplinas, organização, interesse, comportamento em sala de aula e em outras atividades em que participa e também, o seu relacionamento com colegas e professores.
Outros aspectos devem ser considerados como a metodologia proposta pela escola e a sua disponibilidade em auxiliar o aluno com o TDAH no processo da aprendizagem, já que a Psicopedagoga poderá orientar o professor na sua atuação em sala de aula.
A atuação do Psicopedagogo na instituição visa a fortalecer-lhe a identidade, bem como buscar o resgate das raízes dessa instituição, ao mesmo tempo em que procura sintonizá-la com a realidade que está sendo vivenciada no momento histórico atual, buscando adequar essa escola às reais demandas da sociedade.
Durante todo o processo educativo, procura investir numa concepção de ensino-aprendizagem que:
Fomente interações interpessoais;
Incentive os sujeitos da ação educativa a atuarem considerando integradamente as bagagens intelectual e moral;
Estimule a postura transformadora de toda a comunidade educativa para, de fato, inovar a prática escolar; contextualizando-a;
Enfatize o essencial: conceitos e conteúdos estruturantes, com significado relevante, de acordo com a demanda em questão;
Oriente e interaja com o corpo docente no sentido de desenvolver mais o raciocínio do aluno, ajudando-o a aprender a pensar e a estabelecer relações entre os diversos conteúdos trabalhados;
Reforce a parceria entre escola e família;
Lance as bases para a orientação do aluno na construção de seu projeto de vida, com clareza de raciocínio e equilíbrio;
Incentive a implementação de projetos que estimulem a autonomia de professores e alunos;
Atue junto ao corpo docente para que se conscientize de sua posição de “eterno aprendiz”, de sua importância e envolvimento no processo de aprendizagem, com ênfase na avaliação do aluno, evitando mecanismos menores de seleção, que dirigem apenas ao vestibular e não à vida.
Nesse sentido, o material didático adotado, após criteriosa análise, deve ser utilizado como orientador do trabalho do professor e nunca como o único recurso de sua atuação docente.
Com certeza, se almejamos contribuir para a evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade, nossos alunos precisam ser capazes de olhar esse mundo real em que vivemos, interpretá-lo, decifrá-lo e nele ter condições de interferir com segurança e competência.
Para tanto, juntamente com toda a Equipe Escolar, o Psicopedagogo estará mobilizado na construção de um espaço concreto de ensino- aprendizagem, espaço este orientado pela visão de processo, através do qual todos os participantes se articulam e mobilizam na identificação dos pontos principais a serem intensificados e hierarquizados, para que não haja ruptura da ação, e sim continuidade crítica que impulsione a todos em direção ao saber que definem e lutam por alcançar.
Considerando a escola responsável por parcela significativa da formação do ser humano, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar, que podemos chamar de psicopedagogia preventiva, cumpre a importante função de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de normas de conduta inseridas num mais amplo projeto social, procurando afastar, contrabalançar a necessidade de repressão. Assim, a escola, como mediadora no processo de socialização, vem a ser produto da sociedade em que o indivíduo vive e participa. Nela, o professor não apenas ensina, mas também aprende. Aprende conteúdos, aprende a ensinar, a dialogar e liderar; aprende a ser cada vez mais um cidadão do mundo, coerente com sua época e seu papel de ensinante, que é também aprendente. Agindo assim, a maioria das questões poderão ser tratadas de forma preventiva, antes que se tornem verdadeiros problemas.
Em sua obra “A Psicopedagogia no Brasil- Contribuições a Partir da Prática”, Nádia Bossa registra o termo prevenção como referente à atitude do profissional no sentido de adequar as condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos nesse processo, Partindo da criteriosa análise dos fatores que podem promover, como dos que têm possibilidade de comprometer o processo de aprendizagem, a Psicopedagogia Institucional elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal processo, o que vem a ser sua função precípua, colaborando, assim, na preparação das gerações para viver plenamente a complexidade característica da época. Sabemos que o aluno de hoje deseja que sua escola reflita a sua realidade e o prepare para enfrentar os desafios que a vida social apresenta, portanto não aceita ser educado com padrões já obsoletos e ultrapassados.
“A psicopedagogia trabalha e estuda a aprendizagem, o sujeito que aprende, aquilo que ele está apontando como a escola em seu conteúdo sociocultural. É uma área das Ciências Humanas que se dedica ao estudo dos processos de aprendizagem. Podemos hoje afirmar que a Psicopedagogia é um espaço transdisciplinar, pois se constitui a partir de uma nova compreensão acerca da complexidade dos processos de aprendizagem e, dentro desta perspectiva, das suas deficiências.”(Nívea M. C. Fabrício).
Surgiu da necessidade de melhor compreensão do processo de aprendizagem, comprometida com a transformação da realidade escolar, na medida em que possibilita, mediante exercício, análise e ação reflexivas, superar os obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à leitura do mundo e atuação coerente com a evolução e progresso da humanidade, colaborando, assim, para transformar a escola extemporânea, que não está conseguindo acompanhar o aluno que chega a ela, em escola contemporânea, capaz de lidar com os padrões que os alunos trazem e de se contrapor à cultura de massas predominante, dialogando com essa cultura.
Educação e Psicologia, como também Psicanálise, Lingüística e Filosofia, dentre outras, se unem para participar na solução de problemas que possam surgir no contexto educativo; todas passam a levar em conta esse contexto, os fins da educação e a problemática dos meios para realizá-la, elevando o aluno à categoria de sujeito do conhecimento, envolvendo na solução as estratégias pedagógicas adequadas, considerando liderança, diálogo, visão, pensamento e ação como pilares de sustentação de uma organização dinâmica, situada, responsável e humana ( Isabel Alarcão).
Há necessidade de, não apenas conhecer a ação, mas orientá-la, integrando o trabalho de acompanhamento de procedimentos didáticos à resolução de problemas de adaptação escolar, que podem ser caracterizados como aqueles que emergem da relação, da interação entre as pessoas e entre elas e o meio, surgindo em função de desarmonias entre o sujeito e as circunstâncias do ambiente. Essas desarmonias podem até adotar modalidades patogênicas ou patológicas, que requerem encaminhamentos específicos que podem extrapolar o espaço escolar.
REFLETINDO SOBRE A PRÁXIS
Visando favorecer a apropriação do conhecimento pelo ser humano, ao longo de sua evolução, a ação psicopedagógica consiste numa leitura e releitura do processo de aprendizagem, bem como da aplicabilidade de conceitos teóricos que lhe dêem novos contornos e significados, gerando práticas mais consistentes, que respeitem a singularidade de cada um e consigam lidar com resistências. A ação desse profissional jamais pode ser isolada, mas integrada à ação da equipe escolar, buscando, em conjunto, vivenciar a escola, não só como espaço de aprendizagem de conteúdos educacionais, mas de convívio, de cultura, de valores, de pesquisa e experimentação, que possibilitem a flexibilização de atividades docentes e discentes.
Utilizando a situação específica de incorporação de novas dinâmicas em sala de aula, contemplando a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais da escola, o psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais, o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de produção do conhecimento.
A prática psicopedagógica tem contribuído para a flexibilização da atuação docente na medida em que coloca questões que estimulam a reflexão e a confrontação com temáticas ainda insuficientemente discutidas, de manejo delicado, que, na maioria das vezes, podem produzir conflito. Isto se deve, em geral, ao quadro de comprometimento do aluno/instituição, que apresenta dificuldades múltiplas, envolvendo as competências cognitivas, emocionais, atitudinais, relacionais e comunicativas almejadas e necessárias à sociedade. Em decorrência, ações específicas, integradas e complementares de diferentes profissionais devem compor um projeto de escola coerente e impulsionador de valores e relações humanas vividos no ambiente escolar. Projeto que envolva o recurso humano: professores, alunos, comunidade para, através dele, transformar não só a cultura que se vive na escola, mas na sociedade.
Psicopedagogia no Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade
A atuação da Psicopedagoga junto à crianças e adolescentes com Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (DDA ou TDAH).
A Psicopedagogia é uma especialidade multidisciplinar que integra diversos conhecimentos nas áreas que envolvem a aprendizagem, como a Psicologia, Pedagogia, Neurologia, Fonoaudiologia, entre outras.
O acompanhamento Psicopedagógico tem como objetivo abordar o processo da aprendizagem, como esse se desenvolve e de que forma o indivíduo se relaciona com o aprender; nos aspectos cognitivos, emocionais e sociais.Quando são identificadas dificuldades neste processo, a Psicopedagogia busca as suas origens, os possíveis distúrbios; as habilidades e as limitações do ser que aprende.
A intervenção Psicopedagógica pode ser terapêutica, preventiva e de inclusão escolar.
A Avaliação Psicopedagógica é iniciada a partir da primeira entrevista com os pais, quando é conhecido o motivo da consulta, o desenvolvimento da criança e o histórico familiar.
As sessões são realizadas individualmente com a criança ou adolescente. Diante das necessidades são realizados testes e atividades específicas para avaliar o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e emocional da criança. As atividades são voltadas para área da escrita, leitura, raciocínio matemático, motricidade, desenho e o lúdico (jogos com regras), assim como a análise do material escolar.
Diante da avaliação, o acompanhamento poderá ser de uma ou duas vezes por semana.
A avaliação Psicopedagógica tem um papel importante no diagnóstico de uma criança ou adolescente com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade). Elas apresentam dificuldades para manter a sua atenção de forma continuada enquanto realizam uma atividade, mesmo quando há interesse, se dispersam facilmente e desviam sua atenção para um outro estímulo. Quando há hiperatividade, o indivíduo parece incansável, mexe-se constantemente, mais do que necessário quando executa uma atividade; mesmo sentado, parece impaciente, manuseia objetos, balança pernas... Nota-se também, uma certa ansiedade para falar, costuma interromper conversas, brincadeiras e fala sem parar.
Os problemas de atenção, concentração, organização, hiperatividade, e impulsividade afetam o rendimento escolar e, conseqüentemente, a auto-estima da criança. Um diagnóstico realizado o quanto antes, pode evitar sintomas que são associados a este transtorno. O acompanhamento visa criar condições para que o paciente retenha a sua atenção e concentração durante suas atividades, assim como estímulo para organizar-se. No lúdico, observa-se limites, interação com o meio, raciocínio matemático entre outros.
Quando os pais chegam até a clínica Psicopedagógica, geralmente trazem no histórico da criança vários professores particulares, mudanças de escola, dificuldades de relacionamento e inclusive, um desgaste familiar.
Relatos comuns trazidos por pais e educadores de crianças e adolescentes com Déficit de Atenção e Hiperatividade;
• "Parece que está sempre no mundo da lua"
• "Não se importa com os seus resultados"
• "Não tenta mudar"
• "Não sei mais o que fazer"
• "Larga tudo, é muito desorganizado e não cumpre com suas obrigações"
• "Sei que ele é inteligente e consegue fazer as coisas, mas não faz"
Nas queixas as crianças são vistas como agitadas, desorganizadas, perdem objetos, materiais escolares, esquecem compromissos, têm dificuldades para concluir atividades que iniciam e em algumas situações, mostram-se inconvenientes diante do grupo em que se encontram. Mas ao mesmo tempo, são crianças "antenadas", inteligentes e muito afetuosas.
O trabalho Psicopedagógico também é realizado junto aos pais e à escola.
O suporte dirigido à família é recomendado, pois pode haver um desgaste entre os membros. O problema deve ser visto como familiar e não apenas de um indivíduo. A Psicopedagoga orientará o comportamento e atitudes da família que colaborarão com o tratamento da criança ou do adolescente com TDAH. É importante que haja equilíbrio na postura dos pais diante dos limites, regras e reconhecimento dos aspectos positivos que a criança apresenta. O auxílio nas atividades, na organização dos afazeres e pertences também contribuem para que a criança sinta segurança e confiança perante a família.
Quanto à escola, a Psicopedagoga atua junto aos coordenadores e professores com o objetivo de levantar dados na rotina escolar do aluno, como seu rendimento nas disciplinas, organização, interesse, comportamento em sala de aula e em outras atividades em que participa e também, o seu relacionamento com colegas e professores.
Outros aspectos devem ser considerados como a metodologia proposta pela escola e a sua disponibilidade em auxiliar o aluno com o TDAH no processo da aprendizagem, já que a Psicopedagoga poderá orientar o professor na sua atuação em sala de aula.
Uma análise sobre o fracasso escolar brasileiro
Uma análise sobre o fracasso escolar brasileiro
Cibelle Maciel - Publicado em 17.07.2007
Dos estudos realizados sobre o fracasso escolar, foram formulados três conceitos sobre essa problemática, o fracasso dos indivíduos (Poppovic, Exposito & Campos, 1975), o fracasso de uma classe social (Lewis, 1967, Hoggart, 1957) ou fracasso de um sistema social, econômico e político (Freitag, 1979; Porto, 1981).
Para os estudiosos que conceituam o fracasso dos indivíduos, a privação cultural seria a causa desencadeante das dificuldades escolares, devido estes alunos não terem bem estruturados em seu seio familiar a cognição necessária para desenvolver habilidades matemáticas e lingüísticas.
Quanto ao fracasso de uma classe social, os autores conceituam que os próprios membros da classe pobre não valorizam a educação, para estes a evasão escolar não é um problema, visto ser mais importante uma ocupação monetária do aluno para auxiliar no rendimento familiar (Hogart, 1957).
Para Freitag, ocorre uma reprodução cultural, onde os alunos pobres não se desenvolvem devido o próprio sistema escolar não propiciar isso.
Segundo Poppovic é preciso revermos todos esses conceitos de fracasso escolar, no sentido que a escola deve reavaliar as suas metodologias, pois se o aluno é visto como remanescente de uma cultura que não preparou para a aprendizagem, a escola precisa adequar-se a essas exigências individuais, pelo papel social que desempenha.
Em alguns países o estudo sobre o fracasso escolar está avançado, tendo inclusive considerado a etnografia dos alunos, como por exemplo, Labov (1969) acompanhou as diferenças na verbalização das crianças pobres do Harlem em situações informais e formais. Isso significa que a resolução das questões, como as matemáticas muitas vezes dependem do seu contexto.
No Brasil um estudo realizado com alunos pobres em situações formais na escola e informais, onde trabalhavam, demonstrou a habilidade de resolução prática e a dificuldade de sistematizar o que sabiam resolver dentro do ambiente escolar, pois a escola determina uma “estrutura” inacessível para este aluno, devido o seu contexto cultural.
Nos testes, as crianças foram melhores nas situações que envolviam um contexto, ligado às atividades desenvolvidas no comércio, carrinho de pipoca, venda de coco e etc. Enquanto que o teste formal teve resultado inferior.
Na escola é aceito que devê-se ensinar aritmética isoladamente de contextos, essa idéia foi desmentida pelos resultados obtidos na pesquisa.
Podemos concluir que a evolução na aprendizagem matemática reporta-se em muito daquilo que o professor considera do raciocínio lógico desenvolvido pelo aluno, assim como a escola precisa reaver vários conceitos infundados, porque as alunos são diferentes e consequentemente a resolução de um mesmo problema tem formas diferentes de resolução. Além disso, é necessário conhecer quais são as vivências anteriores e atuais desses alunos, para contextualizar o conteúdo de forma significativa.
Bibliografia: CARRAHER, Teresinha N. et all. Na vida dez, na escola zero.São Paulo,Cortez,1990,p 23 a 43.
Cibelle Maciel - Publicado em 17.07.2007
Dos estudos realizados sobre o fracasso escolar, foram formulados três conceitos sobre essa problemática, o fracasso dos indivíduos (Poppovic, Exposito & Campos, 1975), o fracasso de uma classe social (Lewis, 1967, Hoggart, 1957) ou fracasso de um sistema social, econômico e político (Freitag, 1979; Porto, 1981).
Para os estudiosos que conceituam o fracasso dos indivíduos, a privação cultural seria a causa desencadeante das dificuldades escolares, devido estes alunos não terem bem estruturados em seu seio familiar a cognição necessária para desenvolver habilidades matemáticas e lingüísticas.
Quanto ao fracasso de uma classe social, os autores conceituam que os próprios membros da classe pobre não valorizam a educação, para estes a evasão escolar não é um problema, visto ser mais importante uma ocupação monetária do aluno para auxiliar no rendimento familiar (Hogart, 1957).
Para Freitag, ocorre uma reprodução cultural, onde os alunos pobres não se desenvolvem devido o próprio sistema escolar não propiciar isso.
Segundo Poppovic é preciso revermos todos esses conceitos de fracasso escolar, no sentido que a escola deve reavaliar as suas metodologias, pois se o aluno é visto como remanescente de uma cultura que não preparou para a aprendizagem, a escola precisa adequar-se a essas exigências individuais, pelo papel social que desempenha.
Em alguns países o estudo sobre o fracasso escolar está avançado, tendo inclusive considerado a etnografia dos alunos, como por exemplo, Labov (1969) acompanhou as diferenças na verbalização das crianças pobres do Harlem em situações informais e formais. Isso significa que a resolução das questões, como as matemáticas muitas vezes dependem do seu contexto.
No Brasil um estudo realizado com alunos pobres em situações formais na escola e informais, onde trabalhavam, demonstrou a habilidade de resolução prática e a dificuldade de sistematizar o que sabiam resolver dentro do ambiente escolar, pois a escola determina uma “estrutura” inacessível para este aluno, devido o seu contexto cultural.
Nos testes, as crianças foram melhores nas situações que envolviam um contexto, ligado às atividades desenvolvidas no comércio, carrinho de pipoca, venda de coco e etc. Enquanto que o teste formal teve resultado inferior.
Na escola é aceito que devê-se ensinar aritmética isoladamente de contextos, essa idéia foi desmentida pelos resultados obtidos na pesquisa.
Podemos concluir que a evolução na aprendizagem matemática reporta-se em muito daquilo que o professor considera do raciocínio lógico desenvolvido pelo aluno, assim como a escola precisa reaver vários conceitos infundados, porque as alunos são diferentes e consequentemente a resolução de um mesmo problema tem formas diferentes de resolução. Além disso, é necessário conhecer quais são as vivências anteriores e atuais desses alunos, para contextualizar o conteúdo de forma significativa.
Bibliografia: CARRAHER, Teresinha N. et all. Na vida dez, na escola zero.São Paulo,Cortez,1990,p 23 a 43.
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